sábado, 23 de novembro de 2013
GENTE FIXE
É pintor de interiores o senhor Francisco. Anda nisto há um ror de anos, tantos
que até já lhe perdeu o conto. Deita mãos aos pincéis logo de manhazinha, só os
largando pela noite dentro. Aos domingos, faz uma pausa, mas mais porque é um pau
mandado e o sócio tem outras exigências. O corpo é franzino, mas rijo. Diz que
esteve apenas uma vez doente, com uma forte gripe. Mas só faltou um dia à
chamada. Podia lá estar sem as suas tintas. Tinto é também o seu líquido
preferido. Às vezes, exagera, sobretudo em dias de folga. Tem um grupo de gente
fixe com quem se diverte à grande. Volta não volta, dão grandes passeatas. Até já
foram à Galiza. É que a vida não é só trabalhar. Com este modo de vida, o que
mais se poderia esperar do senhor Francisco? A bebida será para ele um refúgio e
até um resguardo para as correntes de ar que tem de apanhar, com as janelas
sempre todas abertas. Não sabe fazer mais nada. Nem a bola o atrai, pois não sabe
ler lá muito bem. Pouco informado, como é que acompanharia as conversas? Os
companheiros do grupinho fixe serão também dos seus, pelo que ficará tudo em
família.
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