sábado, 23 de novembro de 2013
PARECIA VOAR
Toda a gente sabe, ou devia saber, que se não deve mandriar, que se deve fazer pela 
vida, que a vida está lá à espera, muito nervosa, para ser vivida. E era o que 
aquela senhora estaria fazendo. Já não era nova, longe disso. Teria aí uns 
cinquenta ou sessenta anos, que isto de idades tem muito que se lhe diga. Toda 
ela se vestia de negro, de negro mais negro, da cabeça aos pés. Não se sabe o que 
ela teria vendido. Apenas se ouviu o que ela disse a alguém que lhe teria ficado 
com uma parte da sua mercadoria, o resto da qual, que ainda era muito, estava 
envolvido num pano, também negro,  de negro mais negro, a servir de saco. Eu nunca 
mais esquecerei a senhora dona Maria e a dona Maria também não se irá esquecer 
de mim nunca mais. Pouco mais tempo ela ali se demorou, pois tinha lá, à sua 
espera, outras donas, Marias ou não. A pressa que ela levava, rua fora, ligeiramente 
a subir, merecia ter ficado registada. Parecia voar. 
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário