domingo, 28 de maio de 2017
CONTAS À VIDA
Ele lá continuaria a receber a magra pensão,e a fazer mais uns biscates para chegar ao que precisava. E,pelos vistos,chegar-lhe-ia,pois andava bem arranjadinho, com energias bastantes para cirandar por aquelas ruas. Até lhe dariam para alguns cigarritos,a não ser que os apanhasse do chão,como confessara uma vez,ainda que ele não fosse muito de fiar. É que, para ele ter escapado até ali,devia ter artes,ou seria isso quase um milagre,a atentar no quase nada a que se amparava.
Era um velhote parco de carnes,de barriga muito encolhida,com as calças prestes a cairem-lhe. Frio é que ele raramente teria,pois só lá de vez em quando é que reforçava a camisa. Da cabeça é que ele cuidava muito,cobrindo-a sempre com um chapéu tão velho como ele.Por vezes,era apanhado a falar consigo,talvez deitando contas à vida,e com pombos,que o conheceriam muito bem,por frequentarem os mesmos lugares,nas vizinhanças do mercado.
Estaria já conformado,pois quando mal,nunca pior,ou ,então,nascera já assim,acomodatício. Era prova disso o mostrar sempre boa disposição. Além das conversas com os pombos,com quem se dava muito bem,gostava,também,de observar a paisagem,sentando-se no degrau mais a jeito,ali mesmo sobre o espetáculo.Era capaz de não perder pitada.
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