domingo, 17 de dezembro de 2017
AGRICOLA USDA
#
Date
Title Long
Author
[ 1 ]
1979
Comparacao de varios indices de potassio do solo com o potassio extraido pelo azevem-perene em vasos.
Gama, M.V. da.
[ 2 ]
1977
Efeitos do azoto e do potassio na composicao mineral do trigo 'Impeto' e do tomate 'Roma'
Gama, M.V. da.
[ 3 ]
1977
Um caso provavel de deficiencia de enxofre em trigo cultivado em vasos.
Gama, M.V. da.
[ 4 ]
1976
Changes in the exchangeable potassium contents of some soils in different experimental conditions.
Gama, M.V. da.
[ 5 ]
1976
Perdas por volatilizacao de azoto da ureia nos solos.
Gama, M.V. da.
[ 6 ]
1974
Extraction of potassium from twenty one soils with a cation-exchange resin.
Gama, M.V.
[ 7 ]
1973
Efeito do potassio e do sodio na producao e na composicao do azevem (Lolium perenne L.)
Gama, M.V. da.
1973
Gama, M.V. da.
[ 8 ]
1970
Sobre a fixacao do potassio e do amonio nos solos.
Gama, M.V. da.
OS SENHORES EMBONDEIROS
Mas o que se estava a ver era quase tudo água. Secaria depressa. Pois é,mas os crocodilos andariam por perto,e também as pacaças,as gibóias,e outros que tais,e,claro,os mosquitos,que se riam de todos. Muita água foi secando,é certo,e ràpidamente,pelo que não houve tempo para descansar. E foram quatro meses a devassar paredes de covas de um metro de fundo,quanto a espessura de camadas,textura,e mais outras coisas assim. E foram quatro meses a olhar em volta,um olhar temoroso,mas também sôfrego,para nada escapar,que a novidade era muita. E não mais foi esquecido o Rio Longa,o manso Rio Longa,de águas verdes,o seu amplo verde vale,a serpentear por entre galerias de palmeiras e de densos tufos de bananeiras,os morros amarelos das cercanias,revestidos de embondeiros,dos senhores embondeiros.
sábado, 16 de dezembro de 2017
TRANSFORMAÇÕES EM AMBIENTE REDUTOR
Como se sabe,um ambiente redutor,isto é,um ambiente pobre em oxigénio,é caracterizado por cedência de eletrões ou de átomos de hidrogénio. Quando se trata de solos,são várias as transformações que podem ocorrer,atingindo,entre outros,diretamente,o ferro,o azoto,o carbono e o enxofre,e indiretamente,o fósforo.
No caso do ferro,a forma trivalente passa a bivalente,o azoto de nitratos, ou de nitritos,passa a óxidos,e mesmo a azoto molecular,o enxofre de sulfatos passa a sulfuretos,com reflexos negativos,no que toca à sua solubilidade,o carbono de compostos diversos passa a metano,o fósforo que estava ligado ao ferro trivalente,à maneira de um precipitado,torna-se solúvel por estar associado ao ferro bivalente.
Tudo isto, e mais alguma coisa, acontece com a cultura do arroz, quando feita em condições de submersão. Essa mais alguma coisa é,entre outros efeitos, o aumento de oxidrilos,proveniente,
pelo menos,em parte,da alteração de valência do ferro . É a isto que se chama uma autocalagem,por ter um efeito idêntico ao de uma correção da acidez do solo por corretivos da família da cal. Assim,esta cultura pode dispensar calagem,se feita em solos ácidos, tem a sua vida muito facilitada quanto às necessidades em fósforo,e, ao contrário,um tanto dificultada quanto às necessidades em azoto e enxofre.
FOME DE DIAS
Nunca se vira por ali um nuvem assim,muito veloz,densa,para o escuro,barulhenta. Como que se fizera de noite. De repente,talvez a uma ordem,vem por aí abaixo,em medonho alarido,rumo ao azinhal,sobre o qual se desfez em milhares de pombos,semelhando um ato de magia. O ruído dos bicos,a atirarem-se às bolotas,merecia ter sido registado. Parecia um concerto de uma orquestra de castanholas. Deviam ter vindo de muito longe e trariam fome de dias. Não havia meio de o repasto terminar,pelo que aquilo deve ter sido uma razia de respeito. Os porcos dali teriam ficado a meia ração por larga temporada.
OS MAUS DA FITA
Olha o diabo dos corvos. Para o que lhes havia de dar. Viram-no ali sozinho e vá de nele se vingarem,atirando-se,vertiginosamente,em voo picado. É certo que não morria de amores por eles,sabe-se lá porquê,mas tinham errado o alvo. Não fora ele que dependurara os seus muitos irmãos,sem cabeça,ali expostos nos ramos das azinheiras. As cabeças serviam como prova,para um prémio. Diziam que davam conta das crias,de coelhos,de perdizes e demais familia. Esta disposição não seria só ali. Era capaz de estar muito generalizada. Uns bons anos passados,tivera ocasião de o testemunhar,em terra longínqua. Mostravam lá,com grande pormenor,os estragos que eles causavam. Eram os maus da fita.
A MOCA
Ganadaria necessita de espaço, e aquela herdade fora arrendada para casa dos garraios. Ele tinha de estar,pois, sempre alerta,que o seguro morreu de velho. Para maior descanso,antes de iniciar o trabalho,dirigia-se ao "monte", para saber onde se encontravam os bichinhos. Cortou-lhes as voltas por alguns dias,mas por fim,que a tarefa tinha de ser concluída,teve de ir ao seu encontro. Lá estavam eles,dispersos em pequeno vale. Ali havia boa comida,que a terra era fresca. O maioral,que estava sentado no rebordo de um poço,aproximou-se. Vinha apoiado num cajado,em forma de moca. Então,a montada? Ficara lá no "monte",raramente a utilizava. Vira-os nascer e conheciam-se bem. Então,para que servia a moca? Eles eram novos,eram como crianças. Gostavam de brincar e por vezes excediam-se. Era nessas alturas que a moca intervinha,para os separar,para evitar que se aleijassem,o que seria uma carga de trabalhos e,talvez, grosso prejuízo. E o diabo do homem dizia isto com naturalidade,como se estivesse a falar de cães ou de gatos. Na sua companhia,e com a proteção do jipe,lá se deu conta do serviço,mas sempre muito amedrontado,a pensar que eles podiam perder o respeito à moca.
BARREIRAS AGRESTES
O trator não podia ir a todos os cantos. Assim,alguns caminhos tinham de ser abertos pelo esforço dos braços,tarefa nem sempre fácil,pois,nalguns locais,as barreiras eram agrestes,por via de abundante presença de espinhosas. Para além dos espinhos,havia ainda a sílica. Uma poeira brilhante soltava-se ao mais ligeiro movimento,impregnando o ar. O suor retinha-a e a respiração também. O calor acrescia o mal estar. E assim,adiava-se a tarefa para melhor oportunidade,pela fresquinha da manhã ou do fim do dia. Os espinhos é que lá permaneciam,à espera de uma mão ou de um pé mais delicados,bem como a poalha abrasiva,que revestia a pele com uma camada de lixa.
PREGÕES
Sábado era o grande dia das compras. A azáfama começava muito cedo e estendia-se pela noite dentro. Ali havia dinheiro,muito dinheiro. Mas era na larga avenida,a espinha dorsal lá do velho burgo,que o movimento era maior. Às vezes,era até difícil circular.
Um dos cruzamentos dessa avenida,o mais concorrido,aliás,era o local preferido para a venda de flores. Os pregões enchiam os ares. Flores,flores baratas,o que mais soava. Comovia o de uma menina,que não teria ainda dez anos. Muito loira,enfezadita,de olhos chorosos.
O pai ali não lhe batia. Mas era de imaginar que lá em casa não a poupasse. Aparecia de vez em quando,a fiscalizar. A cara era dura,de poucos amigos.
E era nessas alturas que a menina mais alto apregoava,talvez para mostrar ao pai que se estava esforçando. A mãe,mal vestida,ali ao lado,continuava na mesma toada. Já estaria calejada,estaria já por tudo.
DE UMA CAJADADA
Os materiais carvão mineral,petróleo e gás natural, deixados estar lá na sua condição de fóssil, são garantia,como bem se sabe,por um lado,de muito do oxigénio que por aí anda nos ares,e,por outro, do muito dióxido de carbono que nesses mesmos ares andaria,mas que disso ficou impedido. Trazendo esses fósseis materiais à luz do dia e deles fazendo uso para os combustar,pode dizer-se que,de uma cajadada,mata-se um "coelho",ou seja,o oxigénio,e se liberta outro "coelho",o dióxido de carbono.
CELULOSE QUASE PURA
Parecia aquilo uma fortaleza. E,como mandam as boas regras,lá estava a defesa apropriada Não só uma linha,mas duas,que o inimigo era de duas qualidades. Uma,exterior,à base de covas fundas,com cobertura frouxa,espinhosa,para os predadores,a outra,uma faixa larga,permanentemente capinada,para os fogos.
A primeira linha era posta à prova com muita frequência. De vez em quando,lá funcionava como se queria,retendo algum intruso,como uma pacaça ou um javali.De outras vezes,era uma grande tristeza. Acontecia isso quando se tratava de elefantes,que se riam daquela proteção.Os destroços que semeavam à sua passagem,só visto. É que eles sabiam escolher,interessando-se apenas pelos tecidos mais tenros. Deixavam como recordação abundantes dejetos,que se resumiam a celulose quase pura. Eram muito aproveitadinhos.
A segunda linha,pode dizer-se,não passava de um adorno. As quieimadas sucediam-se,é certo,mas ali havia muito pouco por onde pegar,pois o verde era avassalador. Os dois rios que corriam por lá encarregavam-se dessa pujança,alimentando-a sem cessar,sem parcimónias.
O INTRUSO
Era o render da guarda no Palácio de Buckingham,ocasião para tirar fotografias. Acontece,porém,o inesperado. O pára-sol da objectiva,sem pedir licença,atravessa o gradeamento e vai pousar no pátio. Uma pequena mancha negra,um corpo estranho,talvez explosivo,podiam pensar,era bem visível.E agora? O mais atilado seria abandonar aquele lugar. Entretanto,um polícia aproxima-se. É avisado. Atenciosamente,com um sorriso,curva-se,apanha o intruso,devolvendo-o. Simples,nada do que se temera.
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
MENIR DA MEADA - CASTELO DE VIDE
Descoberto em 1965, o Menir da Meada é o maior Menir da Península Ibérica com cerca de 4 metros de altura a partir do solo, e um diâmetro máximo de 1,25metros, pesando cerca de 15 toneladas. Classificado como Monumento Nacional, o Menir da Meada terá sido erguido… GOOGLE MENIR DA MEADA
FONTE DAS FIGUEIRAS - SANTARÉM
A Fonte das Figueiras situa-se na cidade de Santarém, na freguesia de São Salvador, num vale entre o planalto, onde se erguiam os principais bairros da vila medieval, e a Ribeira. Esta fonte, Monumento Nacional desde 1910, é um dos raros exemplos que chegaram até aos dias de hoje da arquitectura civil gótica e de abastecimento de água às populações na Idade Média portuguesa. ... GOOGLE FONTE DAS FIGUEIRAS
AZULEJOS DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DO PINHÃO
Estação Ferroviária do Pinhão - Roteiro do Douro - Guia Turístico ...
www.roteirododouro.com/patrimonio/estacao-ferroviaria-do-pinhao
A Estação Ferroviária do Pinhão é a mais bela estação do Douro. Construída durante o século XIX é conhecida pelos seus azulejos representativos da produção do vinho do Porto, desde as vindimas, o pisar das uvas até ao transporte do vinho em barcos rabelo rio abaixo até às caves em Vila Nova de Gaia. O comboio ... GOOGLE ESTAÇÃO DO PINHÃO
JOSEFA DE ÓBIDOS JÁ ESTÁ NO LOUVRE
Museu - Josefa de Óbidos já está no Louvre - Diário de Notícias
https://www.dn.pt/artes/.../josefa-de-obidos-ja-pode-ser-vista-no-louvre-5514562.html
23/11/2016 - A Galeria Mendes, em Paris, expõe, a partir desta quinta-feira, uma mostra sobre cerâmica portuguesa no século XVII, "para festejar" a entrada do quadro de Josefa de Óbidos, no mesmo dia, no Louvre. GOOGLE JOSEFA LOUVRE
AUCTION AT CHRISTIE'S
Van Gogh Injects Excitement Into Otherwise Solid Auction at Christie's ...
https://www.nytimes.com/.../christies-fall-auction-impressionist-m... - Traduzir esta página
13/11/2017 - The first fall auction of the season at Christie's on Monday was solid, if low energy. There were several empty seats, and some bids had to be coaxed out from the room. But the bidding briefly jolted to life on Vincent van Gogh's vibrant 1889 landscape, “Laboureur dans un champ,” which jumped on one bid ... GOOGLE VAN GOGH AUCTIONS
quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
SER POETA
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens ! Morder como quem beija !
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor !
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer quem se deseja !
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor !
É ter fome, é ter sede de Infinito !
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito !
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente !
FLORBELA ESPANCA
Sonetos
35ª Edição
Bertrand Editora
2005
CONSTÂNCIA - PORTUGAL
"Constância era a antiga Punhete, que D.Sebastião elevou a vila em 1578. Julgam alguns escritores que foi aí que Camões sofreu o destêrro dos anos de 1548-1550,provocado pelos seus mal-aventurados amores com Catarina de Ataíde. Foi também em Constância que se reuniu o exército inglês antes de marchar sôbre a Espanha e de ali travar a famosa batalha de Talavera,em que Wellington derrotou os Franceses,comandados por Jourdan e Victor(Jullho de 1809). Só em 1836 ,porém,a vila tomou o nome por que é hoje conhecida....
Na parte baixa da pov. fica a igreja da Misericórdia,forrada de interessantes azulejos,e no seu ponto culminante a matriz,fund. em 1636 e restaurada profundamente no séc. XIX,com trabalhos de mármore,e cujo teto José Malhoa pintou em 1890. Da tôrre goza-se um soberbo panorama...."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
SANTARÉM
"Compõe-se Santarém de três agrupamentos urbanos,dois ribeirinhos,Ribeira e Alfange,e o terceiro,Marvila,mais numeroso e constituindo propriamente a cidade ,sit. no planalto do esporão abrupto que avança sobre o Tejo. A Ribeira é o bairro marginal,onde fica a estação ferroviária,aglomerado de casas baixas em ruazinhas estreitas que o rio invade quando se avoluma a sua caudal de inverno. A corrente que vem das planuras do Ribatejo em preguiçosos meandros ,cai neste ponto perpendicularmente à margem,inflectindo-se bruscamente para seguir na direcção Sul. Foi neste momentâneo repouso das águas,junto da riba acolhedora,que descançou o corpo de S.ta Irene,vindo do Nabão em fúnebre romagem depois do seu martírio,encerrado milagrosamente num sarcófago de mármore feito pelos anjos,que as águas piedosamente cobrem. Ora andando a Rainha Santa passeando nas margens do rio,teve desejos de ver o sepulcro da mártir,e seus votos foram exalçados,porque as águas se afastaram e o túmulo surgiu pousado sobre a areia branca do fundo. Como fora impossível abri-lo,pois tôda a ferramenta se quebrava,mandou D.Denis levantar sobre êle um pedestal de alvenaria que ficou surgindo acima da corrente (porque as águas se juntaram quando a côrte retirou),sendo mais tarde guarnecido de cantaria ,como ainda se vê,e colocada no cimo uma imagem da Santa. Êste resto da piedosa lenda desempenha hoje a prosaica função de hidrómetro. A Ribeira,vendo facilidade de expansão pela rampa suave,começou a trepar a encosta,porque a escarpa onde Santarém assentou o seu ninho de águia é ladeada por dois entalhes fundos que partem dos bairros ribeirinhos ,o vale de Atamarma ao N. e o vale de Alfange ao S. ..."
RAUL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
VALE DE LOBOS,ALCANENA - PORTUGAL
"Vale de Lôbos,onde passou os últimos anos da sua vida,entregue à cultura das árvores e ao fabrico do azeite,o grande historiador Alexandre Herculano,que ali m. em 1877.
Fialho de Ameida descreveu o trajecto até Vale de Lôbos:
"Sebes de sabugueiros,murtas,troviscos,bordando as barreiras e extremando as pequenas rampas de milho e trigo espigado...."
O cadáver de Herculano esteve sepultado no pequeno cemitério de Azoia de Baixo desde 13 de Setembro de 1877 até 27 de Junho de 1888,dia em que se fêz a sua trasladação para os Jerónimos"
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
AS JARRAS DA ÍNDIA
"O que custa a largar na vida não é a esplêndida natureza,as grandes ideias,a luta ou as paixões - é o que fazemos todos os dias,é o hábito. Um médico meu conhecido do Porto,o dr.Frias,acabou com estas palavras: - E os meus doentes? que vai ser dos meus doentes? - Um pobre chefe de via e obras do caminho de ferro que eu conheci em Guimarães,só dizia: - A linha! tenham cautela com a linha! - E a mim,uma das coisas que me vai custar a deixar são os meus papéis. A vida leva-nos e aturde-nos. Lutamos. Debatemo-nos. Mas quando chegamos ao fim estamos todos docemente maníacos. O cúmulo é o caso acontecido com o Alfredo Guimarães,cuja vida se passou na constante preocupação do bricabraque e que na agonia recomendava ainda:- Olhem lá se esses homens quando descerem com o meu caixão vão partir as jarras da Índia que estão no patamar da escada." RAÚL BRANDÃO
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
TOADA DE PORTALEGRE
E era então que sucedia
Que em Portalegre,cidade
Do Alto Alentejo,cercada
De serras,ventos,penhascos,oliveiras e sobreiros,
Aos pés lá da casa velha
Cheia de maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia da ténue,mas viva,obsediante memória,
De antigas gentes e traças,
Cheia de sol nas vidraças
E de escuro nos recantos ,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos,
- A minha acácia crescia.
Vento soão!,obrigado
Pela doce companhia
Que em teu hálito empestado,
Sem eu sonhar,me chegava!
E a cada raminho novo
Que a tenra acácia deitava,
Será loucura!...,mas era
Uma alegria
Na longa e negra apatia
Daquela miséria extrema
Em que eu vivia,
E vivera,
Como se fizera um poema,
Ou se um filho me nascera.
JOSÉ RÉGIO
Antologia Poética
edições quasi 1ªEdição,Setembro 2005
FLORBELA ESPANCA VISTA POR JOSÉ RÉGIO
"...Assim sempre quis mais,não podendo contentar-se com nada que tivesse - por isso nada chegou a ter : ninguém chega a ter o com que se não contenta. Florbela não era dos que nascem para ter. "Ter é tardar", disse Fernando Pessoa,erguendo neste verso a bandeira dos pobres por opulência. E Mário de Sá-Carneiro : " Morro à míngua - de excesso." Florbela não tardou,não teve. Morreu à míngua - de excesso. Então,por uma reviravolta do Prisma,tem o que afinal sonhara menina :
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo!
O seu nome é hoje glorioso,e a sua glória não é das que duram o dia em que nascem."
FLORBELA ESPANCA
Sonetos
35ª Edição
Bertrand Editora
2005
PALAVRAS AOS VELHINHOS
Ó moços de outra era! ó trémulos velhinhos!
Matusaléns! Noés! heráticos avós!...
Aves que a mãe deixou nos solitários ninhos,
Que se evolou,deixando os passarinhos sós...
Ah,eu bem sei
Apsar disso eu sou mais infeliz que vós...
Ouvi a história
E comparai,depois,a vossa história à minha.
Haveis de ver,então,ó Pais de nossos Pais!
Que eu hei sofrido mais na minha mocidade,
Do que sofrestes vós num século... Muito mais!
ANTÓNIO NOBRE
Poesia Completa
Alicerces
Círculo de Leitores
1988
NO SILÊNCIO DA NOITE
Parecia ter sido uma noite de caça para esquecer. As horas que se tinham gasto,por aqueles montes,por aqueles vales,a alumiar a escuridão. Nada que merecesse a pena,à distância de tiro. Só pares de olhos,aqui e ali,de vários tamanhos e cores,lá muito longe. Uns pares de olhos bem fixos,como que presos daqueles raios para eles apontados.
Era melhor desistir e ir para a caminha,que o corpo já estava pedindo há muito. Ficaria para outra vez. E lá foram,como que derrotados,de regresso a casa. Mas ainda guardavam alguma esperança,podia ser que um golpe de sorte os visitasse.
Ora vamos parar aqui,um ponto alto,sobranceiro ao largo vale. Mais uma vez o foco de luz varreu a escuridão. E mesmo ali,quase a dois passos,deparou-se-lhes um grande par de olhos. Um tiro partiu,um tiro certeiro,um tiro fatal. E foi medonho ouvir-se,no silêncio da noite,o estertor de uma vida,que se foi apagando muito lentamente,talvez com saudades de a deixar. Era,de facto,para esquecer aquela noite de caça. Mas um que nela figurou,por mera curiosidade,nunca mais a esqueceu.
FINA CEIA
À vista de todos,banqueteou-se. Era hora da ceia e ele devia estar com pressa. Nem se lembrou de oferecer,mas estava desculpado. Ele mesmo se encarregou de todas as operações. Já vinha preparado. De um saco,já muito gasto,retirou tudo quanto era indispensável,menos o vinho,mas esse,a seu tempo,apareceria,pois ali havia muito.E o que era tudo? Uma cebola grande,daquelas próprias para um regimento,azeite,vinagre,sal e pão. Com um canivete,cortou a cebola em rodelas muito finas,que foram caindo num prato de esmalte,já também muito usado. Regou-as prodigamente com azeite e vinagre,que,mesmo assim,foram incapazes de dissolver as carradas de sal,ao seu gosto. O molho devia estar uma delícia,pois grande parte dele marchou logo,ensopando pedaços de pão. Finalmente,a montanha de rodelas lá seguiu o seu destino,mas com vagares. Foi um prazer vê-lo comer. Prazer maior deve ele ter tido. E assim,ficou sobejamente demonstrado como tão simples é,e quase de graça,o ter uma fina ceia.
UM GELADO
Já devia ter ultrapassado o cabo dos noventa,ou talvez não,que isto de idades tem muito que se lhe diga. Caminhava quase em ângulo reto,apoiado numa bengala e numa canadiana. Conseguira descer uma escadaria de dois lanços,atravessara a rua e embrenhara-se no jardim. Avançava muito tentamente e,enquanto o fazia,soltava gemidos. Eram ais,numa toada que lembrava,das fitas,a dos remadores das galés. Ele também seria uma,já muito gasta,a desconjuntar-se,mas que ainda se mantinha navegando. Só que nela havia apenas um único tripulante. A cabeça seria a proa. O fluido envolvente deixar-se-ia abrir,sem resistência,com pena dele. E a embarcação lá ia,muito arrastadamente,mas ia. Parou junto a um quiosque. Encostou os apoios e ergueu com esforço a cabeça. Pediu um gelado,pagou,recebeu o troco e retomou a navegação,mas por apenas mais uns metros. Sentou-se num banco,pousando a iguaria ao lado. Tossiu,assoou-se,instalou um cigarro na boca e acendeu-o. Tudo isto sem pressas,como que antegozando o festim. Finalmente,chegou o grande momento. Chupava,dava uma fumaça,tossia e olhava. Para onde? Ficaria isso com ele.
O VALE ERA VERDE
Aquela paisagem,novíssima para ele,encantara-o,seduzira-o. Não sabia para onde se virar,pois em muitos quadros ela se desdobrava,todos de ficar a eles preso. Era o amplo vale que a seus pés se abria. Era o vagaroso rio,a serpentear,que mansamente o cortava. Era a galeria de palmeiras e bananeiras que o alegrava. As bananeiras cresciam ao Deus-dará,com os pés-mães e os filhotes criando densas cortinas. As palmeiras,esguias,procuravam o céu. Eram os palácios de mergulhões,que não desejariam outro poleiro,pois, além de quartos,tinham mesa e roupa lavada,tudo de borla. Podia dizer-se que o vale era verde. Até o rio verde era,de reflexos e de constituição. Havia ainda um outro verde,um verde mais carregado,de outras palmeiras,não tão elegantes,ordenadas,muito apaparicadas. Eram nelas que os exímios trepeiros mostravam as suas habilidades,quando os cachos estavam a pedir que os fossem lá colher. A noite caía quase a pique. E o verde passava a tons violáceos,tudo muito a correr,que era urgente ir descansar. Era nesta altura que os embondeiros,que o punham especado,muito respeitador e um tanto temeroso,na sua frente,pareciam fantasmas de muitos braços. E os seus frutos,de pedúnculos compridos,lembravam ratazanas que eles usariam para mais amedrontar. Mas mal o sol acordava,de novo o vale se pintava de verde,de um verde mais verde. E os fantasmas e as ratazanas iam dormir.
ROCINHA
A Rocinha é uma favela localizada na Zona Sul do município do Rio de Janeiro, no Brasil. Destaca-se por ser a maior favela do país, contando com cerca de 70 mil habitantes.[4] A região passou a ser considerada um bairro e foi delimitada pela Lei Nº 1 995 de 18 de junho de 1993, com alterações nos limites dos bairros da Gávea, Vidigal e São Conrado.[5]...
GOOGLE Rocinha
terça-feira, 12 de dezembro de 2017
DHARAVI
Dharavi is a locality in Mumbai, Maharashtra, India.[1] Its slum is the second-largest slum in the continent of Asia[2][3] (after Orangi Town in Pakistan) and the third-largest slum in the world,[3][4] with an area of just over 2.1 square kilometres (0.81 sq mi; 520 acres).[5] Holding a population of around 700,000 and a population density of over 277,136/km2 (717,780/sq mi), Dharavi is one of the densest areas in the world.
The Dharavi slum was founded in 1882 during the British colonial era, and grew in part because of an expulsion of factories and residents from the peninsular city centre by the colonial government, and from the migration of poor rural Indians into urban Mumbai (then called Bombay).[6] For this reason, Dharavi is currently a highly multi-religious, multi-ethnic, and diverse settlement.[7...
GOOGLE
INDIA SLUMS
O HOMEM DA ATALAIA
Guardara-se aquele local para o fim . É que constava que aquilo era domínio de animais mal feridos. E agora ali estavam,que o trabalho tinha de se completar. A vegetação era alta e densa,um enfeltrado de capim e de espinhosas. Por isso,um escadote fazia parte do instrumental. A picada estava a ser aberta,com a orientação do homem da atalaia. A certa altura,entram em cena as avezinhas anunciadoras da presença de pacaça. Pipilam muito,lá no alto,por cima do hospedeiro. Como de outras vezes,procura-se,fazendo mais barulho,espantar o bichinho. E o que é que o vigilante vê ou julga ver,que tudo se passava lá no interior do mar verde? O bichinho parecia não se ter acobardado e decidira dar luta,vindo ter com o inimigo. Não pensou duas vezes o homem da atalaia. Saltou dela e desatou a correr pela picada fora,uma picada muito estreita,trazendo atrás de si toda a companhia. Sabia lá ele onde punha as mãos? Os espinhos estavam lá, à espera ,e uma mão foi picada. Ainda almoçou,mas jantar é que não. Febre alta,o corpo todo dorido,incapaz de se alimentar. Valeu-lhe alguém,que,por quase uma semana, lhe levava a comida à boca,e um enfermeiro que percebia de infeções. Ainda convalescente,com um braço ao peito,teve de regressar,de jipe,primeiro,por estradas inundadas,depois,de comboio miniatura e de comboio a sério,e,finalmente,de avião. Parecia ter vindo de uma guerra.
SINTONIA
Aquele fora um encontro de muito cogitar. Sem aviso prévio,uma chuva miudinha,de molha-tolos,fizera a sua aparição,apanhando alguns desprevenidos. Por ali havia árvores frondosas,que ofereciam suficiente proteção. Sob uma delas,chegara,primeiro,uma jovem de porte atlético,com um pequeno livro,cujas folhas não havia meio de pararem. Um velho,que escolhera o mesmo guarda-chuva,pensando que a moça estava a precisar de ajuda, decidiu intervir.
E aqui,aconteceu o inesperado. É que a moça nascera,e por lá andara alguns anos,numa cidade muito distante dali,precisamente em Newcastle upon Tyne,onde o velho, há um ror de tempo,estivera uns largos meses. Mas mais ainda. Ela residira muito perto do local onde o velho arranjara poiso.
Mas que tremenda coincidência,concordaram os dois. Ali devia ter havido mãozinha misteriosa. Há por aí muita coisa ainda desconhecida,talvez radiações,talvez tropismos vários,e sabe-se lá mais o quê. E ,sem querer,como que empurrado,o velho teria entrado em sintonia com a jovem,e,irresistivelmente,dela se aproximara. É esta a covição do velho. Da moça nada se sabe a este respeito,mas,o mais provável,é ela nunca mais ter ligado àquele encontro.
Pode, ainda ,acrescentar-se que o velho,num gesto de cavalheirinho,se prontificou a orientar a moça naquele local rico de memórias. Mas ela não esteve para aí virada. Ela,sozinha,se desembaraçaria,como,aliás,muitos dos seus fizeram por esse vasto mundo,tal como os do velho.
UMA APARIÇÃO
Um dos trabalhos que ele ia fazer levava aí umas duas horas por dia,ao longo de uns meses. A temperatura não devia sofrer grandes variações,mas o ideal seria uma constante. E ele procurou esse ideal. No sítio onde se encontrava não havia tal condição,mas talvez houvesse noutro. E havia,até duas salas. E estavam à sua disposição. Desconfiado como era,não descansou enquanto não confirmou a constância.
A sala tinha dois grandes inconvenientes. Não se via uma janela sequer e podia trancar-se do lá de fora. Assim,como ficava lá para um canto,alguém podia lembrar-se de o fazer prisioneiro,por sabe-se lá quanto tempo. O seguro morreu de velho. Tinha de avisar,portanto,para que o fossem lá libertar. E,assim descansado,começou a trabalhar.
Um dia,o que é que havia de acontecer? Uma aparição,na forma de uma gentil menina,muito loira e de olhos muito azuis, com um tabuleiro na mão. Abriu a porta. Lá se iria a constância. Pediu-se para que entrasse depressa. Ela hesitou uns segundos,mas acabou por não entrar. Sabe-se lá do que o moço era capaz?
A temperatura tinha de ser mesmo constante,para maior rigor. Teve ocasião de o verificar. A curva de valores a 25 era algo diferente da a 15. Neste segundo caso,vestiu uma camisola grossa.
DE MÃOS LARGAS
Estava a ouvir os carros a passar na rua com o chão molhado de chuva a acair. Fora assim que há muitos anos ele acordara de madrugada,algures numa pensão alentejana. Parecia ter-se gorado o trabalho da noite a preparar as coisas para uma sementeira de trevo da Pérsia. O tempo acabou por se recompor e lá foi à procura de auxílio.Apareceu na forma de um velhote muito magro,com barba de dias. Era dono de uma parelha de muares tão velhas como ele. Mas os três sabiam do seu ofício,que a aprendizagem começara cedo e em excelente escola.A água deixara de vir do céu,mas havia mais prometida. As mulazinhas não podiam mandriar,bem como o seu condutor. A obra ficou perfeita. Todos não cabiam de contentes,sobretudo o trio assalariado. Ainda se haviam lembrado deles,graças a Deus. Tinham estado um largo tempo parados,mas não há mal que sempre dure. O par teve naquele dia rancho melhorado e o velhote,para além do que fora estabelecido,banqueteou-se com ceia lauta no café do lugar.A previsão confirmou-se. A chuva voltou,de mãos largas,fazendo das suas. As sementes boiavam. Tinham sido esforços baldados. Feitas as contas,restara a alegria dada ao trio assalariado. Não se perdera tudo.
DE TARDE
Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
O Livro de Cesário Verde, Lisboa, 1887
domingo, 10 de dezembro de 2017
AO SOL
...
Um grande sol claro e cadente,alaga a praça em júbilos africanos,e a sua catarata de fogo dá uma vibratilidade dolorosa às coisas que nos circundam,uma vida alucinada a cada simples função da nossa vida. Sob uma tal incandescência,que dirieis uma tripla essência da tortura,veiculada em fulgurantes zoeiras de arco-íris,adeus tranquilas sensações,ideias serenas,exactidões religiosas de sentidos,índoles mansas e amoráveis,almas translúcidas e benignos ideais de felicidade! Cada raio deste sol é uma pata de demónio agitando nos crânios todas as sortes de impulsões desencontradas,todas as monomanias mefistofélicas e bizarras....
Já as respirações sobem de ritmo,pressentindo o terrível acesso de calma do meio-dia. Trinta graus dentro de casa - ufa!,ufa! - ,o que quer dizer quarenta e cinco nos malhadouros das eiras. Uma lassidão começa a invadir os membros húmidos,e zuídos de enxame ziguezagueiam,
crepitam,ao redor dos nossos ouvidos. O vento que sopra é como o hálito dum forno crepitando de estalidos súbitos,que lembram os gritos de dor da terra ulcerada por milhões de cáusticos....
FIALHO DE ALMEIDA
O País das Uvas
Ao Sol
Círculo de Leitores
1981
POBRE JIBÓIA
O jipe não havia meio de vir,pelo que o melhor era fazerem-se ao caminho,um caminho à beira-rio. Manda quem pode,mas às vezes não devia mandar,como foi neste caso. Ignorâncias. Entretanto,caíra a noite. Dava aviso,mas esperava pouco. Já se sabia,mas era o mesmo que nada. À frente,ia o trepeiro,homem muito experimentado. Com ele no comando,ia-se tranquilo. Não se contara,porém,com uma jibóia,que se lembrara,naquela altura,de ir à sua vida. E deu-se o que é frequente acontecer,um encontro que ninguém desejava. A pobre da jibóia deve ter ficado muito assustada e tratou de se escapulir,refugiando-se no remanso de onde viera,o capim fresquinho do talude do rio. O guia ainda levantou a catana no propósito de a enfrentar. Fora ele o único a montar defesa,pois com os outros não se podia contar. Ora a nossa vida,lamentava-se o que podia. Assim não vamos lá. Com quantas gibóias iremos cruzar? Está além uma fogueira e o mais acertado é ficarmos lá à espera,aconselhou o guia. O jipe acabou por aparecer,depois de se ter refeito de uma mazela.
UMA GRANDE MULHER
Agora sabia bem que estivera nos Victoria Tower Gardens,ali à vista do Tamisa,mesmo no coração da grande urbe. Acontecera isso há muitos,muitos anos. Andara a meter o nariz por muitos cantos,a querer ver o mais que pudesse,que o tempo voava e o disponível era magro,e também porque podia ser aquela a última oportunidade de por ali passar,o que,de facto,veio a suceder. Parecia ele adivinhar.
Sentara-se,a recobrar forças. Só depois de alguns minutos é que deu conta de que à sua volta apenas se viam senhoras de muita idade. Isso levou-o a pensar que estaria em local de algum significado. Não demorou muito a ser esclarecido.
Uma das senhoras levantara-se e viera sentar-se a seu lado. Sabia ele onde se encontrava?
Não,não sabia.Estava cansado e sentara-se no primeiro banco que vira. Está ali a ver aquela estátua? Pois é a estátua de uma grande mulher. A ela devemos,da sua luta,o direito das mulheres poderem votar. Estamos-lhe muito gratas por isso e sempre que podemos vimos aqui prestar-lhe homenagem.
E O SILÊNCIO REGRESSOU
Não iria ser pera doce aquele trabalho de cartografia de solos nas margens do rio Longa. Quando do começo, uma grande parte ainda estava inundada,mas haveria de secar,como sucedera noutros anos. Chegara a ocasião de um local que se tinha deixado para o fim,na esperança de que secasse completamente,o que não aconteceu. Ali,só com botas de borracha. Perto,ficara uma lagoa,de margens ensopadas. A água ,de cor acinzentada,ressumava a cada passo. Não fora possível abrir ali covas,pelo que a natureza do terreno só podia ser determinada por meio de sonda. Foi uma tarefa penosa,pois as mãos ficaram numa lástima. O capim crescera alto,mas pouco denso,permitindo serpentear sem necessidade de grandes esforços. A confiança era tanta,garantida por um prévio sinal da cruz,que nem um momento se pensou na surpresa que se podia ter no próximo afastamento de um tufo de caules. As observações faziam-se sem precalços e o silêncio do lugar não era perturbado por qualquer ruído alarmante. De súbito,ouvem-se repetidos sinais de aflição. Um pobre javali pisara,inadvertidamente,o espaço de um crocodilo e este não se fizera rogado. O desfecho foi rápido. E o silêncio regressou. Não houve uma palmeira,um embondeiro,nem sequer um pé de capim,por mais próximo,que viesse contar o que se tinha passado. Indiferentes,continuaram na sua vida.
JÚLIO DINIS
Foi simples,foi inteligente,foi puro. Trabalhou,criou,morreu. Mais feliz que nós,tem o seu destino afirmado,e para ele resolveu-se a questão." EÇA DE QUEIROZ Uma Campanha Alegre Volume I Lello &Irmão-Editores Porto 1979
sábado, 9 de dezembro de 2017
BIOGRAFIA DE ALEXANDRE HERCULANO
"Alexandre Herculano (1810-1877) é considerado o pai da historiografia portuguesa e os seus poemas e romances transformam-no numa figura fundamental do romantismo. Colaborou e fundou várias revistas e jornais de âmbito cultural e noticioso.
Aprendeu os rudimentos da investigação histórica fora do circuito académico, que foi obrigado a abandonar por razões económicas.
Devido à sua oposição ao Miguelismo é obrigado a exilar-se, primeiro em Inglaterra e depois em França, onde contacta com obras de historiadores, romancistas e poetas estrangeiros que vão ter grande influência no futuro do seu trabalho.
Em 1832, desembarca no Mindelo com as tropas liberais e participa na defesa do Porto.
Com o regime liberal assume a gestão de diversas bibliotecas. Dirige “O Panorama”, a mais importante revista literária da época, e está na fundação de dois jornais: “O País” e “O Português”.
Membro e dirigente da Academia Real das Ciências publica, em quatro volumes, a sua “História de Portugal”, uma obra de referência na historiografia portuguesa.
Dececionado com a política, passou os últimos anos da vida em Vale de Lobos, continuando a trabalhar nas suas obras."
UMA EXISTÊNCIA DE SONHO
"Quantas vezes me detenho a pensar,e a dizer aos melhores amigos da minha vida,àqueles a quem devo as horas mais silenciosas,mais recolhidas e mais belas: - Valeu-te a pena? Trocaste a vida pelo sonho. Gastas-te a criar,sabe Deus à custa de que absorção dolorosa. Nem vaidade satisfeita,nem vulgares interesses mesquinhos. Deste-nos a tua alma,e a tua existência foi um esforço sobre-humano para atingir a beleza espiritual e a beleza moral. Nisto passaram as melhores horas - passou a vida - e se consumiram cérebro e nervos,de homens que se chamam Herculano,Antero,Camilo e Junqueiro,que durante vinte,trinta anos,levaram a alma ao fogo dum cadinho,esquecendo-se que a vida galopa a nosso lado,e de que,se nos arrependermos,não há esforços,nem gritos,nem súplicas,nem sentimentos,nem razões que a detenham. Profissão,se é profissão,a pior de todas que conheço. Dela,extraem alguma vaidade,e quase todos sofrimento. Dela se morre. Vejo Camilo deitar a mão ao revólver e leio nos olhos de Antero o minuto supremo de angústia. Aí está o Eça exausto,e o pobre Fialho carrega com um fardo que me mete medo. Todos estes homens só tiveram uma existência de sonho,uma existência tão pesada e humilde de trabalho,que não há aí ninguém que a comprreenda,que a inveje. Uma força os obriga a subir sempre,a subir ainda que não queiram. Nem desviam os olhos,nem se sentem sangrar. Totalmente se entregam..."
RAUL BRANDÃO
Memórias (Tomo II)
Obras Completas Vol.I p.208
Edição José Carlos Seabra Pereira
Relógio D'Água
1999
DA BARCA DE AMIEIRA DO TEJO
"No sítio do Pôrto há uma barca de passagem. Aí mesmo atravessou o Tejo o cadáver e préstito fúnebre da rainha Santa Isabel ,na sua trasladação de Estremoz a Coimbra. Por esse facto,diz-se,não há memória de ter sucedido nessa travessia infortúnio algum."
RAUL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
ÍNCLITA GERAÇÃO
"Um caso fortuito,o casamento de D.João com uma filha do Lencastre(filho de Eduardo III de Inglaterra)contribuiu para modificar a corte e as classes dirigentes de Portugal. Os filhos de D.João I nasceram com grandes dotes,e lograram educação primorosa no ambiente criado por D.Filipa,preceptora de toda a corte,a qual era constituída,como dissemos,por gente nova. Raras vezes se viu,em toda a história,tão notável realização de um ideal completo de humanidade. A corte,como escreveu um historiador,era então uma academia;os infantes,-cavaleiros,sábios e moralistas. O mais velho,D.Duarte,consciencioso e aplicado até ao escrúpulo doentio,estuda a ciência de reinar e a moral,escreve o Leal Conselheiro e a Arte de Cavalgar em toda sela;o segundo,D.Pedro,de cujas viagens se formou lenda,ajuda,com elas,a resolver o problema da Índia,estuda os éticos e os geógrafos,e compõe um tratado de moral sobre a Virtuosa Benfeitoria;o terceiro,D.Henrique,-calado,tenaz e duro-foi o propulsor dos descobrimentos;D.Fernando revelou no martírio as virtudes cristãs de que era capaz;de D.João,por acaso,não ficaram obras confirmativas do conceito excepcional em que o tiveram."Inclita geração,altos infantes",lhes chamou Camões nos seus Lusíadas."
António Sérgio
Guia de Portugal I
Raúl Proença
Biblioteca Nacional de Lisboa
1924
Apresentação e Notas de
Sant'anna Dionísio
Fundação Calouste Gulbenkian
1991
DIÁLOGOS EM ROMA
Author: Hollanda,Francisco de
Title: Quatro diálogos da pintura antiga. English.
Title: Diálogos em Roma(1538): conversations on art with Michelangelo Buonarrotti/Francisco de Hollanda;edited by Grazia Dolores Folliero - Metz;with a preface by Wolfgang Drost.
Published:Heidelberg:Winter,1998.
Na Biblioteca da Universidade de Harvard,USA.
Francisco de Holanda
pintor,iluminador,arquitecto e escritor,filho de um iluminador e pintor flamengo estabelecido em Portugal,nasceu cerca de 1518 e morreu em 1584....
ANTÓNIO SÉRGIO
Prosa Doutrinal de Autores Portugueses
Portugália
CASA DOS PATUDOS - ALPIARÇA
"O imóvel da autoria do Arqt. Raul Lino de estilo revivalista-nacionalista,fiel às tradições arquitectónicas da sua época,foi utilizado como "assento de lavoura",mas também como tertúlia política ,artística e musical.
O seu proprietário ,José Relvas(1858-1929),foi figura destacada da 1ª República - por ele proclamada,em 5 de Outubro de 1910,da varanda dos Paços do Concelho de Lisboa,tendo sido também lavrador,fotógrafo,músico,mecenas e filantropo.
O seu pai,Carlos Relvas,foi um conhecido fotógrafo,esteta e cavaleiro tauromáquico,criador do famoso e ainda actual "Selim à Relvas"."
Texto que acompanha as duas primeiras imagens.
" Mas, se o exterior da Casa dos Patudos nos atrai e nos encanta pela sua simplicidade ,a parte interna surpreende-nos pela elegância requintada das sua salas e pelas preciosidades artísticas que as adornam ,numa disposição dum bom gôsto inexcedível. Nessas vastas salas sente-se a impressão de que cada objecto está no seu lugar próprio,sem se aglomerarem,sem se prejudicarem uns aos outros,tão discretamente estão dispostos ,num conjunto único de harmonia e de sobriedade. O mobiliário,as porcelanas,as pinturas e as tapeçarias constituem o núcleo principal das obras de artes tão carinhosa e tão inteligentemente reunidas na Casa dos Patudos.
E, entre estas,destacam-se pela sua qualidade e quantidade,a série de tapetes de Arraiolos - sem dúvida a mais notável no país - constituída por mais de 40 exemplares,que guarnecem as paredes da escadaria principal e as da sala da Renascença,e entre os quais merece referência especial um bordado a sêda e datado de 1761...."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
PROMONTÓRIO
Era um local impregnado de mistério,quase sempre envolto em brumas. Parecia,umas vezes,um promontório,outras,um navio de eras antigas. Seria,talvez,uma quilha de velha caravela que ali tivesse varado,não se sabe bem como. Um pesado silêncio reinava ali. Apenas o cortava um ou outro piar de ave de rapina. Em redor,para todos os quadrantes,a vista alargava-se,nas raras abertas consentidas,perdendo-se para além do mar,alternadamente verde e amarelo. Em tempos,passara por lá ,quase só,um rei destronado, a caminho do exílio. Deixara ele um rasto de tristeza,que perdurara,mais acentuando aquela desolação. Apsar de tudo isso ou talvez por isso mesmo,vivia ali gente. Eram eles ,um velho capitão,de olho muito azul e cuidada barba,que lhe chegava até à cintura,com o seu imediato fiel,que sempre o acompanhara nas aventuras sem conta. E um escrivão muito probo,de farta calva. E também um aprendiz,que dava mostras de não gostar nada daquele sítio,mas incapaz de sair dele. Restavam dois ou três mais,entretidos com tarefas rudes. Residiam todos num castelo meio arruinado,junto a uma escarpa prestes a desmoronar-se. Que faria aquela gente?,seria a pergunta que ocorria a alguns nómadas,quando jornadeavam por perto,nas suas andanças intermináveis. Estranhavam o seu apego àquele lugar quase abandonado. E certo dia,um mais atrevido,não resistiu,abordando um deles que tinha ido à caça. Foi em vão,pois o homem,ou lá o que era,usava uma linguagem incompreensível. Eram capazes de ser extraterrestres. E foi o que se espalhou pelas redondezas. Não podia,certamente,ser outra coisa,já que havia falta de quase tudo de que um terráqueo necessitava para sobreviver. E assim permaneceu esse entendimento,adensando ainda mais o mistério que dali se desprendia.
sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
"A FORMUSURA DE ALMEIRIM DE INVERNO"
" Almeirim deve a sua existência a um palácio que ali fez erigir em 1411 o rei D. João I e que os soberanos da dinastia de Avis habitaram,ampliando-o,e fazendo dêle uma mansão de luxo (João de Castilho trabalhou ali) onde a côrte se vinha divertir. " Era a Sintra de inverno no séc. XVI,onde,segundo se diz na Eufrosina,se estava às vezes em pilha como sardinha". D. Manuel ali passou todo o ano de 1510,parte do de 1513,os natais de 1514 e 15 e todo o período que decorreu entre Outubro de 1515 e Maio de 1516. D. João III seguiu-lhe o exemplo. No seu reinado celebram-se ali as côrtes de 1544,para juramento do príncipe D. João,pai de D. Sebastião,como herdeiro da corôa. Foi ainda em Almeirim que se reuniram as côrtes de 1580 para tratar da sucessão ao trono(vol.I,p. 48) e ali m. nesse mesmo ano o cardeal-rei,que,segundo parece,ali nascera também(1512). É nos paços da vila que Gil Vicente representa,às côrtes de D. Manuel e D. João III,grande número das suas farças e comédias : em 1510 o Auto da Fé,a Barca da Glória em 1519,a tragicomédia Dom Duardos nos desponsórios da infanta D. Isabel com Carlos V(1525),e em 1526 a farça do Juiz da Beira,a tragicomédia Templo de Apolo,o Breve sumário da história de Deus e Diálogo sobre a Ressurreição. O Cancioneiro geral de Garcia de Resende também se começou a imprimir nos paços de Almeirim,que ainda no séc. XVII faziam afluir à vila grande multidão de gente da côrte ,como se depreende da seguinte passagem de Luis Mendes de Vasconcelos no seu Do sítio de Lisboa:
"Não dissestes a formosura de Almeirim de inverno,nem a frescura de Sintra no verão,e a facilidade com que a estas partes se vai,podendo ir em bergantim pelo rio até Almeirim,vendo as praias e campos deste nosso rio...".
Hoje todo este quadro desapareceu.Do palácio nada resta. As suas derradeiras ruínas foram demolidas...no verão de 1889....."
RAÚL PROENÇA
Guia de Portugal 2º Volume
Biblioteca Nacional de Lisboa
1927
A PROPÓSITO DA FLORESTA AMAZÓNICA
Que massa,que força,que pujança. Não se diria que o solo onde ela se levanta fosse,no geral,tão pobre,quase só areia. Então como explicar este aparente milagre da natureza? É uma conjugação feliz de vários fatores. Em primeiro lugar,à cabeça,o sol e a água. A clorofila vem depois. E é um sintetizar permanente de material orgânico. A manta morta que por ali vai de toda aquela folhagem e companhia. Para os nutrientes,que a água traz,há,claro,as raízes,mas,acima de tudo,as micorrizas,um entendimento mútuo de radículas e fungos,uns parasitas que retribuem bem a hospedagem,de cama e mesa.
Decepada ela,a floresta,fica um solo que não se esperaria. E então há que o fabricar muito depressa. Porque com aquele sol e aquela água, a folhagem e os seus restos que por lá haja desaparecerão enquanto o diabo esfrega um olho. E é o diabo. Lá se vai aquele natural captador do famigerado CO2,numa extensão quase única,exemplar.
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
SER PROFESSOR
"Não sou, junto de vós,mais do que um camarada um bocadinho mais velho. Sei coisas que vocês não sabem,do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei ou já me esqueci. Estou aqui para ensinar umas e aprender outras. Ensinar,não:falar delas. Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde quer que nos encontremos.
Não acabei sem lhes fazer notar que "a aula é nossa". Que a todos cabe o direito de falar,desde que fale um de cada vez e não corte a palavra ao que está com ela."...
"Bendito seja Deus,por eu ser professor!"...
"Para ser porfessor,também é preciso ter as mãos purificadas. A toda a hora temos de tocar em flores. A toda a hora a Poesia nos visita."...
Do Prefácio de Hernâni Cidade para o
DIÁRIO de
Sebastião da Gama
9ª edição
Edições Ática
SEIS QUADRAS DE ANTÓNIO ALEIXO
Vai subindo lentamente,
só assim serás alguém,
que quem sobe de repente
raramente sobe bem.
Tu não vais à procissão
p'ra rezar à Virgem-Mãe,
vais p'ra aqueles que lá vão
verem que tu vais também.
Que o mundo está mal,dizemos,
e vai de mal a pior;
e,afinal,nada fazemos
p'ra que ele seja melhor.
Talvez paz no mundo houvesse,
embora tal não pareça,
se o coração não estivesse
tão distante da cabeça.
É tão engraçada a vida...
sem que a gente a veja assim,
volta ao ponto da partida,
quando está perto do fim.
Gosto de apertar a mão
àspera dos calos que tem;
também as côdeas de pão
são ásperas,mas sabem bem.
ANTÓNIO ALEIXO
ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO...
Sétima Edição
Loulé 1983
CONFEITARIA CENTENÁRIA
Confrangia o apelo da senhora,ali naquela sala de plateia a nível nacional. Parecia uma mendiga de mão estendida,solicitando uma ajudazinha. Tratava-se de uma confeitaria centenária,lá para o Norte,em riscos de ter de fechar as portas. As histórias que ela teria para contar,histórias que fariam parte de uma história maior,digna de ser guardada para que pudessem ficar a sabê-la os que viessem depois. Passara-se em tempos por lá. Apreciara-se,como não podia deixar de ser,as especialidades da casa. Mas apreciara-se,sobretudo,o envolvimento,o chamado ambiente,humano e mobiliário. Tudo aquilo respirava tempos românticos. A delicadeza do trato,do estilo de que o freguês é que tem sempre razão,não tinha par. Parecia ter-se mergulhado no tempo,de um tempo que morreu,acabou-se,já não há mais,agora só em sítios como aquele,que deviam ser agarrados,conservados,como jóias sem preço. Talvez,até, tivessem passado por ali o Camilo,o Nobre,o Pascoais e outros da mesma família. Pode ser que o seu apelo tenha sido escutado,quem sabe? Pena foi que a pobre senhora estivesse ali de mão estendida solicitando uma ajudazinha.
UM OUTRO ALEIXO
Onde já lá iam os noventa,assim o revelou. Parco de carnes,o velhote ouvia mal. Regressava ao Barreiro,de onde tinha vindo,manhã muito cedo. Não se entendia lá muito bem com os transportes,mas havia sempre alguém que o ajudava.
O ouvido estava fraco,mas a memória não se comparava,pedia meças. E para o mostrar,desfiou ali,de uma assentada, mais de uma dúzia de quadras,inteiramente da sua lavra. Um outro Aleixo. Para também se ouvir,acabou por ter casa cheia.
Vestido de negro,incluindo o chapéu,todo ele era vida. Os olhinhos faiscavam,na sua carita chupada. Tê-los-ia dito,aquela torrente de versos,muitas vezes,não importa. Este seu jeito vinha de muito longe,de quando ele era moço. Contava ainda fazer muitos mais,que motes não haviam de faltar e o engenho também não.
Passem por cá muito bem,que eu tenho de ir apanhar o barco. Fizera este caminho poucas vezes,mas agora já não tinha dúvida. Adeus. E lá foi,direito que nem um fuso,quase sem rugas na carita escanhoada a preceito,para vir à capital.
segunda-feira, 27 de novembro de 2017
UM VELHO CONHECIDO
O metano está preocupando muita gente. Como se sabe,é um dos componentes dos combustíveis fósseis,sobretudo,do gás natural. Mas não é deste que deriva a preocupação, pois o que se conserva nas jazidas está lá bem guardado,e o que delas sai é para ser combustado. O que preocupa, é o que se vai libertando da muito complexa decomposição bacteriana de materiais orgânicos,vegetais e animais,em condições de falta de oxigénio. Acontece isso nas situações mais variáveis,em que se incluem terras pantanosas,águas estagnadas,arrozais,barragens e o aparelho digestivo de ruminantes e de térmitas. Preocupa, também, as camadas geladas de solos do hemisfério norte,um dos maiores armazéns de matéria orgânica da Terra,que aprisiona metano enquanto não se derreterem.O metano é,assim,pode dizer-se,um velho conhecido. Até há quem julgue que o metano eatá na origem da vida. Como gás que é,anda por aí,na atmosfera. O seu teor varia consoante a contribuição de cada uma das fontes e o poder eliminador da própria atmosfera. Que esse poder não deixe de actuar como até aqui,é a esperança de muitos.
O MEU NATAL ( EXCERTO )
A noite de Natal. Em meu País,agora,
O que não vai até romper o dia, a aurora!
As mesas de jantar,na cidade e na aldeia,
À luz das velas,ou à luz duma candeia
Entre risadas de crianças e cristais
(De que me chegam até mim só ais,só ais),
Dois milhões de almas e outros tantos corações,
Pondo de parte ódios,torturas,aflições,
Que o mel suaviza e faz adormecer o vinho:
São todas em redor duma toalha de linho!
ANTÓNIO NOBRE
Poesia Completa
Primeiros Versos
1988
Círculo de Leitores
POBRE DE CRISTO
Ó minha terra na planície rasa,
Branca de sol e cal e de luar
Minha terra que nunca viste o mar,
Onde tenho o meu pão e a minha casa.
Minha terra de tardes sem uma asa,
Sem um bater de folhas... a dormitar...
Meu anel de rubis a flamejar,
Minha terra moirisca a arder em brasa!
Minha terra onde meu irmão nasceu,
Aonde a mãe que eu tive e que morreu
Foi moça e loira,amou e foi amada!
Truz...Truz...Truz... - Eu não tenho onde me acoite,
Sou um pobre de longe,é quase noite,
Terra,quero dormir,dá-me pousada!...
FLORBELA ESPANCA
Alentejo Não Tem Sombra
Eugénio de Andrade
Edições ASA
2002
OS SIDERÓFOROS
Como se sabe,o ferro tem um papel fundamental em plantas e microorganismos com capacidade fotossintética,ainda que não faça parte da estrutura da clorofila. Ora o ferro está muito pouco disponível em meios alcalinos,como nalguns solos e na água dos oceanos. Acontece que há organismos,como fungos,que segregam substâncias,os sideróforos,que conseguem solubilizar o ferro,permitindo,assim,que a fotossíntese ocorra.
CICLOS DO P E DO N
...Para acabar,um toque nos ciclos do P e do N,tão intimamente
ligados,uma vez que sem eles nada feito. Por isso,para alimentar tanta gente, teve o homem de produzir adubos azotados,e extrair reservas sedimentares fosfatadas, de milhões de anos,das quais se estão a ver os fundos.
SOBRE O CARBONO
... uma matéria que está na ordem do dia,ou não se tratasse de carbono. Mas pobres baleias,por muitas e grandes que sejam,não chegam aos “calcanhares” do microscópico fitoplancton,esse,sim,o grande sumidouro de carbono,em vida,e em morte. Foi dele, do um estirado passado,como se sabe,que vieram as jazidas fósseis de carvão mineral,de petróleo,de gás natural,muitas já idas,outras muitas,em fase de exploração,e outras,em lista de espera,e por registar. Foram elas que garantiram uma boa parte do oxigénio que anda por aí. As plantas verdes,acima de todas,as árvores,pela sua longevidade,imitam,timidamente, essas jazidas,aprisionando carbono. Mas logo que entram em decomposição,mais depressa as ervinhas,como se sabe também,o seu carbono regresa a casa,como o faz toda a biomassa,vegetal e animal,o homem incluído,está claro,enquanto for mortal
quarta-feira, 20 de setembro de 2017
425 - CONGRES INTERNATIONAL DE LA SCIENCE DU SOL
Tpyflbi X MEffiflyHAPOflHOrO KOHrPECCA nOHBOBEflOB ...
iuss.boku.ac.at/files/1974_10_kothpecc__10th_congress_ii_compressed.pdf
-me Congres International de la Science du Sol. •er Internationaler Bodenkundlicher Kongres». Tpydbi e 11 moMax. Transactions in 11 volumes .... Formation of humus as a link in the carbon cycling in soils ... M.V.Gama and M.L.B.Sousa. 233.
424 - TRANSACTIONS OF INTERNATIONAL CONGRESS OF SOIL SCIENCE 1974
Extraction of potassium from twenty one soils with a cation-exchange resin.
Author(s):
Gama, M.V.
Sousa, M.L.B.
Found In:
Trans Int Congr Soil Sci 1974, 10th (v. 2)
p. 233-239.
terça-feira, 19 de setembro de 2017
423- AGROCHIMICA 1976
Changes in the exchangeable potassium contents of some soils in different experimental conditions.
Author(s):
Gama, M.V. da.
Found In:
Agrochimica Mar/May 1976, 20 (2/3)
p. 191-203.
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
422 - DISSOCIATION OF EXCHANGEABLE SODIUM
[PDF]
Tpyflbi X MEffiflyHAPOflHOrO KOHrPECCA nOHBOBEflOB ...
iuss.boku.ac.at/files/1974_10_kothpecc__10th_congress_ii_compressed.pdf
Extraction of potassium from twenty one soils with a ... M.V.Gama and M.L.B.Sousa. 233. Dissociation of exchangeable sodium of clay minerals and soils.
domingo, 3 de setembro de 2017
MAIN SOURCES OF METHANE EMISSIONS
There are both natural and human sources of methane emissions. The main natural sources include wetlands, termites and the oceans.
CLIMATE CHANGE
States powering ahead on climate targets despite federal inaction, report shows
After being criticised by Canberra, South Australia is leading the race, with ACT and Tasmania close behind, says Climate Council
A COISA VAI MAL
Quando os meios se ocupam,dias a fio,com o noticiar de "escândalos" ou coisa parecida,usando as primeiras páginas,caixa alta,grandes parangonas,sublinhado,e sabe-se lá mais o quê,parece ser sinal claro de que a coisa vai mal,mesmo muito mal,a precisar,urgentemente, de médico á altura,ou à largura,como se queira. Parece ser sinal evidente de que os meios vão mal,mesmo muito mal,ou então,em alternativa,ou conjuntamente,a procura vai mal,mesmo muito mal.
PADRÃO DE EFICÁCIA
O empedrado do passeio debaixo de certa varanda de primeiro andar estava negro,de um negro sujo. Tinha sido isso obra de uma muito rara e teimosa rega canina,quer dizer,
uma espécie de água mole,que não furou,mas impregnou. Tal prodígio merecia continuidade,pelo que lá permanece,como um padrão de eficácia.
O SEGREDO
Era uma velhinha toda vestida de negro,cor que não largara desde a morte do marido. Servira devotamente naquela igreja anos a fio. Os anos não perdoam e tiveram de arranjar quem a substituísse. As voltas que naquela tarde ela deu em torno do túmulo do padroeiro. Tinha feito isso vezes sem conta. Mas parecia ser aquela a primeira vez. Aquilo devia ser a continuação de uma conversa que interrompera no dia anterior. Fora ela que cuidara da higiene do santo durante anos,mas de uma maneira de que só ela tinha o segredo. Talvez ouvisse queixas. A sua sucessora não trataria bem dele. Mas ela estava ainda ali para durar. Podia o santo estar descansado,que ela colmataria as faltas. Não fora em vão que cuidara dele aquele tempo todo. Em troca,o santo dera-lhe sempre excelente saúde,de tal modo que nunca precisara de médico. A filha bem insistia com ela,mas recebia sempre a mesma resposta. Estou todos os dias com o meu médico,não preciso de outro.Naquela tarde,dera a visita por terminada. Fez as despedidas como devia ser e lá abalou,sobraçando um enorme chapéu de sol,próprio para aqueles dias de verão tórrido.
TIMONEIRA DE ELEVADOR
Vou ver se arranjo as coisas de maneira a poder estar mais vezes contigo. Isto dizia,de forma assaz indiscreta,um conquistador já muito experimentado. Ela acabara de se render,uma moça que podia ser sua filha. Era a timoneira do elevador,naquela altura à espera de nova viagem. O tempo de descanso parecia eternizar-se,acentuando o desconforto de uma estrangeira velhinha. Que desaforo,queriam dizer os seus cansados olhos. Temeria também pela sua segurança. Sim,que a donzela,transtornada pelo namoro em serviço,era capaz de não dar conta do recado,provocando algum desastre. Assim não aconteceu,de facto,que o diabo nem sempre faz das suas. A senhora é que teria suspirado de alívio quando se viu a salvo e jurado que não a veriam por ali outra vez. Que país este. Para assistir a uma coisa destas,não valeria a pena a deslocação. Tê-las-ia também lá no seu. Afinal,tudo estava cada vez mais igual.
sábado, 2 de setembro de 2017
INDONESIAN RAINFOREST
Sadly, Indonesia has one of the highest deforestation rates in the world, and just under half of the country's original forest cover now remains. Although estimates ...
WHAT ARE ANTIOXIDANTS ?
Antioxidants protect the body from damage caused by harmful molecules called free radicals. Many experts believe this damage is a factor in the development of blood vessel disease (atherosclerosis), cancer, and other conditions
NEM NADA
A uma esquina, conversam duas senhoras. Não calcula,diz uma delas,a minha filha comprou agora um andar que só visto. Não lhe falta nada,aquilo é mesmo um palácio. Foi um bocado carote,mas ela merece. Não há filha como aquela,pode crer,muito trabalhadora,muito minha amiga.
A outra,coitada,ouvia,um tanto triste. Se calhar,nem filha tinha,nem filha,nem nada.
NÃO TRAZIA ROL
Às vezes,dá para pensar em alguém que deixara de aparecer a animar as ruas. Se calhar,já marchara. Mas um dia,lá se vê de novo. Afinal,ainda por cá andava,cumprindo-se. Mas chegará outro dia,o dia de não mais se ver. Partira para longínquas paragens,donde não mais se volta. Foi o caso de um velhinho que dava gosto ver,no seu andar lesto,parecendo voar,que lá em casa ficara a companheira de uma vida longa.Não tinha telemóvel,mas tinha o telefone da casa onde entrara. E era vê-lo a avisá-la que não tardaria,que ela tivesse mais um bocadinho de paciência. A memória já não seria por aí além,que o tempo não perdoava,e não trazia rol,pelo que,a cada passo,lá abria os sacos,na tentativa de descobrir as faltas.
O BURRO NÃO SABIA
Vivia em permanente desassossego aquela mãe. Bem gostava ela de ficar em casa,por índole e por ser fraquinha. Mas não podia ser. Como muitas,por esse mundo além,teve de arranjar um emprego e alguém que a ajudasse nos afazeres domésticos. O emprego era estável,ao contrário das auxiliares. De quando em quando,lá lhe fugiam. Nestes transes,tinha de pôr pernas aos caminhos,acompanhada da prole. Um dia,depois de várias tentativas frustradas,entrou num incontido desespero. O filho mais velhinho deu conta e quis colaborar. Passavam num descampado,à vista de um burro,que,pacientemente,tasquinhava erva rala. Olhe mãe,está ali um burro. Pode ser que ele saiba de alguma empregada.Vamos parar e perguntar-lhe. O burro não sabia,mas sabia o seu dono.
sexta-feira, 1 de setembro de 2017
WHAT ARE FREE RADICALS ?
What Are Free Radicals?
https://www.globalhealingcenter.com/.../what-are-free-radicals/
Traduzir esta página
de WAF Radicals - Citado por 1 - Artigos relacionados
06/02/2017 - Free radicals are unstable molecules that damage cells and contribute to aging and disease. Antioxidants can counter free radical activity.
PALHAÇO POBRE
Quem o ouvisse,parecia estar ele muito alegre,muito satisfeito com a sua vida. Seria,então,uma alegria de palhaço pobre. De resto,tristezas não pagam dívidas.
NÚMEROS MÉDIOS
É um facto o acelerado desenvolvimento dos últimos tempos,que se acentuou quase a cada momento. Segundo alguns,deve-se isso muito menos a individuais cérebros do que a um colectivo cérebro,produto de uma quebra de fronteiras,de uma larga e fácil troca de ideias,de uma forma de hibridização,quase de sexualismo. E avançam,para o colocarem bem em evidência,com números,números médios,de tudo e de mais alguma coisa,de mortalidade,de ganhos,de nível de vida,de bem estar,números médios,que escondem outros números de arripiar,números que se perpetuam,que são uma mancha muito triste no lindo tapete dos números médios.
CARAPAU DE GATO
Eram mãe e filho,um filho já homem,mas a precisar de amparo,como se fosse ainda uma criança. Ela estava mais acabada,mais achacada,mais trôpega. Tinha de se sentar,ali,acolá,onde calhava,a recobrar forças. Aquela manhã era uma manhã especial,uma manhã de compras. Entraram os dois,mas foi só ela a abastecer-se. Ele pouco se demorou. Preferiu ficar lá fora,à espera do seu anjo da guarda. Ela trazia muito pouco. O que mais se notava era um peixinho,ligeiramente maior do que um carapau de gato,quando o havia. Estava aquilo a pedir um milagre,mas quem seria capaz de o fazer,num tempo a eles tão avesso? Um milagre a seguir a outro,o daquele peixinho,quando vivo,a circular com mestria no seu meio. Mas,no que a ele dizia respeito,por ali se ficou.
DE SACHOLAS NAS MÃOS
Então,vêm lá de Lisboa? Para eles,simples como eram,Lisboa devia ser lá para o cabo do mundo. Sim,viemos lá de muito perto. Então são capazes de ter visto por lá o nosso filho,o nosso único filho,que tanta falta nos faz,mas a tropa levou-o já há uns meses. Ainda tentámos que ele cá ficasse,mas foi o mesmo que nada. Deviam precisar muito lá dele,para assim nos deixar para aqui desamparados.Ali se encontravam aqueles dois,de sacholas nas mãos, a cuidar dos seu batatal,já em flor. Ainda não eram muito velhos,mas aquela dura vida gastara-os,antes do tempo. O jeito que ele nos fazia se cá estivesse. Tenham mais um bocado de paciência,que o tempo passa depressa,e qualquer dia têm-no de volta. Deus o oiça,que fosse já amanhã,para podermos descansar mais um pouco,que há por aqui muito que fazer. Não temos só este pedacito,que o meu pai me deixou. Temos mais alguns,assim maneirinhos,mas é do que há por aqui,já devem ter reparado. Uns quintais ,a bem dizer,mas que nos dão muitas canseiras. Mas é a vida,o que se há-de fazer? Que o nosso rapaz venha depressa.
quinta-feira, 31 de agosto de 2017
GENT UNIVERSITY - BELGIUM
Effect of liming on phosphorus availability in some soils [Portugal]. [1989]
Goncalves M.G. Gama M.V. da Gent Univ. (Belgium). Faculteit Landbouwkundige en Toegepaste Biologische Wetenschappen. Estacao Agronomica Nacional, Oeiras (Portugal)
UNIVERSIDAD AUTONOMA DE NUEVO LEON,MONTERREY - MÉXICO
UNIVERSIDAD AUTONOMA DE NUEVO LEON,MONTERREY - MÉXICO
A probable case of sulphur deficiency in wheat cropped in pots. [1977]
Gama M.V. Estacao Agronomica Nacional, Oeiras (Portugal) Universidad Autonoma de Nuevo Leon, Monterrey (Mexico). Facultad de Agronomia.
OUTRAS CONTAS
Como os tempos mudavam. Onde é que já se vira aquilo? Um anão a bater o pé a um gigante? Uma pulga a fazer pouco de um elefante? O que eram as coisas. Nada se podia dar como certo,era bem verdade. Julgavam que era chegar ali e já estava? Não,aquilo deixara de ser da Joana. Isso era dantes,de resto,como tinha acontecido sempre. Os tempos,os ventos,tinham mudado,e muito. Quem passava a mandar ali era com outras contas,não como vinha acontecendo,já não se lembravam desde quando,desde muito lá para trás. Era o que faltava. Os tempos,os ventos,tinham mudado.
OUTRO MUNDO
Na NATUREZA, nada se perde,nada se cria,TUDO se transforma. É a FORMA,em constante mudança,a REALIDADE. Todo o mundo é composto de mudança.É assim,não há nada fazer. Porque assim é? É perguntar a QUEM o fez,faz,O do FIAT.
E quem tal contrarie está remando contra a maré,acabando,mais tarde,ou mais cedo,por se esgotar,numa luta sem glória. E quem tal contrarie parece estar apostado em não sobreviver,preferindo a morte a tal sorte.
Em vez de contribuir para a mudança,alterando-a naquilo que pudesse,deixa-se ficar à margem dela,excluindo-se,teimosamente,como se a outro mundo pertencesse.
O SEU PERIQUITO
Tão feliz que a senhora estava. Não fora uma moeda que ela tinha perdido e que acabara por encontrar,mas muito mais,fora o seu periquito,o seu único companheiro de há longos quatorze anos que voltara para a gaiola. Julgara-o perdido para sempre. A porta da prisão abrira-se e o periquito aproveitara para ir dar uma volta de quase um dia. Tão ralada que ela ficara. Por onde andaria o seu amigo,com quem ela conversava tanto? As voltas que ela dera à casa. Não escapou um canto. Espreitou por debaixo da cama mais de uma vez,revolveu os armários,e o seu periquito não dava sinal de si. Desceu e subiu a escada de serviço do prédio,e foi o mesmo que nada. Nem sombras do periquito. Bateu à porta dos vizinhos em vão. Afinal,o seu periquito não tinha saído da casa. Fora dar com ele debaixo da mesa da cozinha. Tão feliz que ela estava,até pareceu ter remoçado. O que seria dela sem o seu companheiro e amigo de tantos anos? Mais valeria a morte.
FLOR NA LAPELA
Dois amigos encontraram-se, num encontro aí de uma meia hora, pois tinham alguma coisa para contar, já que se não viam há uns bons tempos. Estavam razoavelmente bem de saúde, graves problemas não os apoquentava, pelo que falaram de coisas sem importância de maior,de coisas triviais.
Um falou do tempo, do que acabara de ler,ou de ouvir,coisas por assim dizer do lado de fora. O outro,não,falou de coisas bem lá de dentro,de dentro dele,pois então, que doutras não cuidava. Falou de si,mas dum si longínquo,dum si que ele não havia meio de esquecer,dum si vitorioso. Não calculas,aquilo foi um achado,e ainda estou para saber como tal coisa me aconteceu,mas ainda bem que aconteceu comigo,que com outro não tinha graça nenhuma.
Era uma história já conhecida do outro,e de outros mais,também,certamente,que ele não podia deixar de contar,que era assim que ele se sentia feliz,uma felicidade só lá muito lá dele,os outros que a procurassem,talvez viessem a dar com ela. Enfim,assim ele vivia,nada o apoquentando,
embalado por um si vitorioso,que o revestia,um si feliz,que ele bem mostrava na sua carita rosada,nos seus olhinhos muito vivos,num sorriso permanente,como uma flor na lapela.
quarta-feira, 30 de agosto de 2017
CICLO ATIVO DO CARBONO
Como se sabe,florestar,ou conservar a floresta que já existe,são dois dos meios de manter o carbono,por algum tempo,fora do seu ciclo ativo,reduzindo-se,assim, o teor de CO2 da atmosfera. Não admira,pois,que se tivesse concluído em certo estudo que uma agricultura altamente produtiva,na última parte do século XX,tivesse evitado desflorestação,ou seja,tivesse diminuído a libertação de CO2
APARATO BELICOSO
É uso dizer quem vai à luta dá e leva. Acontece que há uns que só estão dispostos a dar,exibindo sempre um aparato belicoso.
AO FIM
Quando se está disposto a fazer ultrapassagens de qualquer maneira,parece ter-se pressa de chegar ao fim.
UM MODO DE ESTAR
Poupar. Ajudar. Não estar sempre a pensar no mesmo. Observar. Trabalhar. Compadecer-se.
NO SEU CANTINHO
Não sabia para onde havia de ir,o que o trazia muito ralado. É que estar muito tempo no mesmo cantinho não deve fazer bem à saúde. Já andara por vários cantos,mas não fora feliz. Eram todos de fugir,e quanto mais depressa ,melhor,que os males pegavam-se. Para aqueles males não havia ainda vacinas eficazes,constando, até ,que seria muito difícil inventá-las. E assim,apsar da ralação quanto à saúde,lá continuava no seu cantinho. Mas,de vez em quando,ainda que o não desejasse,dava-se com ele a lembrar um ou outro canto por onde andara. E a lembrar-se,também,dos motivos que o levaram a deles debandar. Desses cantos,havia meia dúzia que nunca mais esqueceria,pois tinham deixado marcas para ficar. Um,era uma caixinha de surpresas,em particular nas veredas nobres. Eram alçapões por todo o lado,pelo que os olhos deviam ir bem abertos. Pode dizer-se que esse tinha um gémeo. Não lhe ficava atrás. Ao virar de cada esquina,lá se abria um buraco. Não se sabe como não fora parar ao hospital. Mas havia outro que pedia meças a estes dois. É que as armadilhas não tinham aspecto disso,estavam bem disfarçadas. De uma não se livrara e tivera de baixar à enfermaria. Um outro ,ainda, batia-os a todos. Era um campeão. Ria-se dos hospitais e das enfermarias. Isso eram cuidados a mais e uma sangria de dinheiro. Se não tivesse saído de lá a correr ,só o teriam encontrado na vala comum. Os dois restantes eram muito parecidos. As ruas eram frequentadas por gente estranha,de difícil classificação. Talvez fossem parentes de fantasmas. Como quer que fosse,aquilo era gente que metia medo. Sendo assim,não tendo exagerado ou fantasiado,o que muitas vezes sucede,por variadíssimas razões,o homem parecia ter razão. O melhor fora mesmo ficar lá no seu cantinho. Não estaria livre,porém,de alçapões,buracos,valas comuns,fantasmas,porque nunca se sabe para o que se está guardado.
NAQUELE SILÊNCIO
Fora um encontro inesperado. Uma porta estava aberta e lá dentro um velho trabalhava. Os seus ollhos podiam avistar dali meio mundo. Pois desse vasto mundo, era ele o último na sua arte. A forja crepitava e lá fora uma roda esperava. Aro que ele ajustasse era aro para sempre. As encomendas não choviam,naquela altura,como era de imaginar,mas isso pouco lhe importaria. Naquela atalaia,naquele ermo,tinha o universo a seus pés. Ninguém o incomodava e ele retribuía de igual modo. Não parecia que os anos lhe pesassem. Talvez tivesse desejado acabar assim. Um dia,naquela rarefacção,naquele silêncio,iria por esses ares além,certamente,feliz ,por ter sido o que mais resistira.
terça-feira, 29 de agosto de 2017
SEM AVISO PRÉVIO
Era uma vasta área,quase plana. Quer dizer,a água que lá caísse,só podia sair dali,a
bem dizer,na vertical. E assim,quando chovia demais,as plantas que por lá faziam pela vida,uma boa parte das vezes,searas de trigo,viam-se e desejavam-se para respirar,mostrando cara muito amarelinha.Em terreno lavrado,todo o cuidado era pouco,
pois,sem aviso prévio,havia o risco de se ir por ali abaixo.
CULPADO
Para o que lhe havia de dar. Um casal de cegos aproximava-se,e a voz dele ouvia-se. Uma esmolinha por favor,uma esmolinha por favor.
Primeiro,pensou em mudar de passeio,depois,ao passar por eles,quase nem os olhou. Teria sido para se furtar ao desembolso? Talvez um pouco,ainda que pouco se esvaziasse. Então,do que mais seria?
NAQUELE SILÊNCIO
Fora um encontro inesperado. Uma porta estava aberta e lá dentro um velho trabalhava. Os seus ollhos podiam avistar dali meio mundo. Pois desse vasto mundo, era ele o último na sua arte. A forja crepitava e lá fora uma roda esperava. Aro que ele ajustasse era aro para sempre. As encomendas não choviam,naquela altura,como era de imaginar,mas isso pouco lhe importaria. Naquela atalaia,naquele ermo,tinha o universo a seus pés. Ninguém o incomodava e ele retribuía de igual modo. Não parecia que os anos lhe pesassem. Talvez tivesse desejado acabar assim. Um dia,naquela rarefacção,naquele silêncio,iria por esses ares além,certamente,feliz ,por ter sido o que mais resistira.
UM REGALO
Era como que um outro "monte" aquele maneirinho cemitério,ali perdido no meio de montados e mais montados. Também tinha merecido cara lavada. Parecia,até, que a cal,azul e branca,fora lá posta de véspera. Assim se pintavam todos os "montes" ali em redor. E também estava lá num alto,mais próximo do céu,que ele ali representava. Mas era mais feliz que os "montes" seus vizinhos,pelo menos naquela tarde de abrasar. É que lhe batia uma aragem leve,fresquinha,vinda de um tapete de água,que ali perto se estendia,quase à sua medida,de maneirinho que também era. Muito raramente as suas portas se abririam. Por isso,como que para ali estava abandonado. Naquela altura,podia dizer-se,apenas as cigarras,formigas e outros que tais,tirando um ou outro nómada,lhe faziam companhia. Viveria conformado o maneirinho cemitério. Não se esqueciam dele,pois,de vez em a quando,lá o vinham tratar,cuidando da sua roupa. Depois,tinha ali aquele tapete,quase a molhar-lhe os pés,um regalo em dias de sol de torrar,como naquela tarde.
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
DEFICIÊNCIA DE FERRO EM PLANTAS
Como se sabe,é frequente a deficiência de ferro em plantas,quando os solos são alcalinos,como os calcários. Resulta isso, do facto do ferro se encontrar muito pouco solúvel,ou seja,muito pouco disponível. Nem todas as plantas,e, também, nem todos os solos,porém,se comportam de igual maneira. Uma das razões parece dizer respeito à acção de fungos.É que a maior parte dos fungos sintetizam sideróforos,ou seja,
substâncias que formam complexos solúveis com o ferro,de alta estabilidade. Se esses fungos estabelecerem com as raizes das plantas associações simbióticas,a sua nutrição
férrica estará,obviamente,ainda mais facilitada.
O MANDO
Até ali, tinha sido só um a mandar,passando o mando de pais para filhos. Depois,passara o mando para quem o povo escolhesse. Para isso,tinha o povo de sair de casa,tinha de se incomodar.
Ora o povo,depois de tanto tempo a ser mandado,foi-se a pouco e pouco cansando de sair de casa. E a certa altura,parecia ter-se voltado aos tempos antigos. Eles que lá se entendessem,que era disso,do mando, é que eles gostavam.
UM INVENTÁRIO
O homem das sete léguas. A mulher dos esconsos de portas de prédios. A velhota entre dois carros,em berma de rua movimentada,aliviando-se. O dos abraços a senhoras,nas ruas. A passageira,de pernas enganchadas,de uma traquitana já muito gasta. O que tinha como vizinhos gatos sem eira nem beira. Os de à volta cá te espero. O tribuno orando aos pombos. O rapaz da trança até à cintura,e da casa abandonada,com os seus dois grandes cães de estimação. Os de vinganças. O que visitava meticulosamente contentores de lixo,com uma vassoura na mão,não fosse sujar a rua. O eterno batedor em portas certas,que a vida tem de ser suportada. O homem das dez léguas,e muitas mais,que, um dia,ainda iria ao fim do mundo. Os velhinhos imitando remadores de galés,das fitas,antigas,ou modernas. Os videirinhos. O andarilho,de botas de gigante,que tratava todos por doutores,burro é que ele não era. O casal que inventara um novo calorífero,o seu amigo cão. A senhora que falava pelos cotovelos com quem passava. A velhota que parecia voar. O janota colector de beatas. O parado em qualquer sítio,à espera de alguém,que já tinha partido para sempre. O do chapéu às três pancados,especado,suspenso de moças que ele perto via. Os telemóveis sempre engatilhados. Os cigarros em bocas de donzelas e de senhoras. Os condutores de automóveis,ao telefone. O filho, já homem,na peugada da mãe velhinha. Os dos amigos são para as ocasiões. Os que dizem coisas pela primeira vez. Os do só eu é que sei,é que vi,mais ninguém. Os do dantes é que era bom. Os do ai se eu mandasse,ia tudo raso. Os das casas que estão para ali. Os espertos. Os da poeira para os olhos. Os troca-tintas. Os pobrezinhos. Os pobrezinhos que sonham,que querem ser ricos,também têm direito,porque não?
Os ricos,que não querem ser pobrezinhos,também têm direito,porque não? ...
A VISITA
Fora visitá-la. Era uma senhora já de muita idade,acamada há largos meses. Devia-lhe muito,uma dívida muito antiga. Tinha sido,pode dizer-se,uma sua segunda mãe. Mas isso já lá ia há um ror de tempo,talvez ela nem já se lembrasse. Mas mesmo assim,nunca ele se tinha esquecido. Há coisas que nunca esquecem,ou não deviam ser esquecidas. O que é que lhe havia de dizer? Não queria que aquele encontro,que podia ser o último,estivesse povoado de tristezas. Recordar-lhe momentos de festa que ela proporcionara seria uma boa saída. E foi o que fez. Via-se que ela ficara um tanto admirada. Não esperaria. Mas bem depresssa aceitou,com satisfação,aquela franqueza,aquela fraqueza,colaborando e recordando factos que se supunha estarem esquecidos. O prazer que aquilo lhe deu,até parece ter ganho novo alento. Estava ali um que lhe mostrava reconhecimento,ao contrário de outros,que fugiam de o manifestar. Com isto,ter-lhe-ia dado mais uma justificação para a sua longa vida,que não teria sido em vão. Prestes a encetar a tal viagem,estava ali aquele a lembrar-lhe que tinha sido amiga. Podia morrer descansada. Morreu,de facto,pouco depois. Parecia ter demorado,à espera daquela visita.
VONTADE
O rapaz prometia,assim lhes tinha dito o mestre-escola lá da aldeia. O que é que os pais haviam de fazer? Pois se o filho podia vir a ser mais do que eles ,então era pôr mãos à obra. O comboio passava-lhe mesmo ali ao pé da porta. Era só levantar de madrugada e ir apanhá-lo. Muita gente acordava com as estrelas para ir para as fazendas ou para as fábricas. Ele ia para o liceu. Sempre parecia ser melhor. A viagem era de graça por o pai trabalhar na Companhia. O almoço e a merenda iam na cesta. Apenas ele tinha de estudar. E aqui residia a dificuldade. Cada professor supunha ser a sua disciplina a mais importante,pelo que a matéria a decorar ou a compreeeder formava uma montanha, As viagens eram também longas e barulhentas. Chegava a dormir ns aulas,coitado. Mas a vontade era muita. As notas nunca andaram lá muito por cima,mas chegaram para não ficar para trás. Se tivesse tido vida folgada,outro galo teria cantado. Mas não foi caso único naquela altura. Os irmãos trabalhavam no campo,à jorna. Parecia ser este igualmente o seu destino. Estava escrito,porém,que não seria assim. Alguém resolveu investir nele,tinha o moço já quinze anos. Isso não o perturbou. Em três anos fez os sete da conta. Também lhe vinha de casa o farnel,que ele ia buscar todos os sábados a um sítio certo. Muito custa a vida para alguns,sobretudo quando se metem em cavalarias altas.
domingo, 27 de agosto de 2017
PREOCUPAÇÕES
Como é sabido,o óxido nitroso derivado da redução do ião nitrato,qualquer que seja a sua origem, tem causado preocupações. Na sequência do processo redutivo,o óxido nitroso não é,porém, o produto final,mas sim o amoníaco,antecedido do azoto molecular. Quer dizer,que na desnitrificação,incluída no ciclo do azoto,o óxido nitroso pode vir a dar lugar,pelo menos,a uma forma inerte.
COOPERAÇÃO
O que ele mostrava ser amigo dos pobrezinhos. É que,por tudo,e por nada,não se cansava de os lembrar a outros.
Constava,porém,não ser ele um benemérito por aí além,ainda que o pudese ser. Estaria a contar com larga cooperação,para a qual muito trabalhava.
IMANENTES
O moço era um simples,um confiado,de boa fé. Mas não sabia que trazia consigo outros moços,de outras caras. Não sabia nada disto,e ia partir para a vida. Não sabia que iria ser assaltado por lobos,postados a cada esquina. Não sabia que devia saber defender-se deles e ser raposa e até lobo,também,recorrendo aos companheiros que,com ele,vinham. Não sabia que a outros moços, iguaizinhos a ele,já lhes tinha acontecido o mesmo,nos assaltos,e nas defesas. Que alguns dos lobos,teriam sido já raposas,e até confiados,como ele era ainda. Não sabia,assim,que devia ser tolerante,compreensivo,em suma,estar preparado para tudo. Porque,em boa verdade,ele era igualzinho a todos os outros moços e não moços. Teria de ser confiado,raposa,lobo,consoante o momento,melhor dito,a circunstância. A circunstância. O que ela encerra,um monte de surpresas. Em última a análise,a vida a isso obrigava. Era o princípio da conservação do indivíduo,a montante do da espécie,princípios imanentes,talvez mais aquele do que este.
NATUREZA SELVAGEM
Porque ficara impressionado o homem com aqueles registos? Talvez tivesse sido a sucessão de montes pintados de cores violáceas. Mas também o lajedo rochoso,o verde dos prados,o mato florido,a promessa de silêncio. E algumas vezes as gentes. Rudes,talhadas a machado,como o passador.Era este a imagem de um sobrevivente de muitas calamidades e contratempos. Porventura, o modelo de todos os que conseguem,apsar de tantos reveses,ficar à tona. Parece,por vezes,ir submergir para sempre. Mas com um golpe de rins,um salto mais atrevido,uma marcha mais veloz,lá surge ele com maior determinação para viver.Era uma irradiação da natureza selvagem que o rodeava,de onde ele brotara,como que espontaneamente. Muito aprendera com ela. Vira nascer e morrer. Vira armadilhas e cercos. E vira que nem todos se deixaram prender. Certas vezes,fora a sorte que o lograra,outras,a vontade de continuar,de teimar,como ele.Como que fora levado a isso. Aquela beleza rude,dominante,quer ser vista,apreciada,gozada. E só aceita gente forte,corajosa,destemida. É capaz de aborrecer os fracos,os desinteressados,os apáticos,os abúlicos.
VALOR ACRESCENTADO
Ali não tinha chegado a guerra,mas da guerra não se livraram de todo. A comida minguara. E,assim,nasceram as senhas de racionamento. Quem se habituara a papar o que tinha na vontade,as senhas eram de menos. Para aqueles que sempre tinham apertado o cinto,as senhas eram de mais. E estes,alguns pelo menos,vá de as vender com valor acrescentado. Abrira-se a estes uma novidade. É que nunca lhes teria passado pela cabeça virem,um dia,a ser negociantes. Havia,porém,uma outra forma de abastecimento,reservada só a amigos dos produtores. É que estes não vendiam tudo,ficando com as suas reservas. Era,no entanto,uma saída de alto risco,pois a fiscalização não brincava em serviço. E assim,só os muito habilidosos conseguiam escapar à sua apertada malha. Aos outros,retilham-lhes,pelo menos,as mercadorias. Mas não passava tudo isto de uma questão de comida,que se podia remediar,melhor ou pior. Não uma questão de vida,que essa,uma vez perdida,é sem remédio.
sábado, 26 de agosto de 2017
CLIMATE CHANGE
Climate change | Environment | The Guardian
https://www.theguardian.com/environment/climate-change
Traduzir esta página
25 August 2017 ... Climate Consensus - the 97% New study finds that climate change costs will hit Trump country .... About 19,711 results for Climate change.
World has three years left to ... · Health · Record-breaking climate ... · I blame men
SOBRE A BATATA DOCE
Como muitos sabem,e muitos não devem saber,a batata doce pouco tem a ver com a batata,sendo uma,a batata,do género Solanum,da família Solanaceae,e a outra,a batata doce,do género Ipomoea,da família Convolvulaceae. Uma,a batata,é um caule subterrâneo,a outra,a batata doce,é uma raíz. É cultivada há milhares de anos,sendo originária,muito provavelmente,da América Central. O seu valor alimentar reside,sobretudo,nos teores de amido,açúcar e vitamina A. É na Ásia,em especial,na China, que mais se cultiva,para consumo humano e animal. Utiliza-se,também,muito em África,mas aqui,quase só para consumo humano. Apesar das diferenças,o Centro Internacional da Batata,com sede no Peru,inclui nas suas atividades a batata doce.
A SORTE DOS BURROS
A sorte dos burros. Estavam em vias de desaparecer,que os tempos já não estavam para burrices,e,de repente,veio-se a descobrir que o leite que os alimentava era assim como o melhor leite do mundo. Grandes burros eram eles,pois,maiores do que burros não eram.
O que eram,pois,as coisas. E entraram numa era que nenhum se lembrava de ter vivido,mesmo naqueles velhos tempos em que os burrinhos eram considerados quase da família. E foi um multiplicar de burros por tudo quanto era sítio,mesmo sítios onde nunca tinham entrado,por serem o que eram,por serem burros,que eles não podiam deixar de ser o que eram,nem eles,nem outros quaisquer,por mais burrices deixassem de fazer. O que eram,pois,as coisas. De repente,deixaram de ser,pode dizer-se,burros,para ser outra coisa,ainda que burros continuassem a ser,em boa verdade,pois não se podia deixar de ser o que se era.
IR DESCANSAR
Era aquela uma terra de ninguém,uma espécie de baldio,quer dizer,qualquer um podia lá entrar,colher dela o que entendesse,não exagerando,claro,mas não demorar-se. Tratava-se de um costume muito antigo,sempre respeitado.
Aconteceu,um dia,vir instalar-se nela alguém que não estava para esses ajustes. Achava que aquela terra era mais dele,pelo que podia por lá permanecer. Os outros,só a correr. Mas isto de a correr já eles todos sabiam e faziam,escusava de o estar a lembrar. Quanto o ser mais dele,queriam ouvir as razões.
Ele deu-as,pensando ter convencimento geral. Quase acertou. É que um não esteve para as aceitar e passou também a frequentá-la mais vezes.
Era para ter havido guerra. Não houve,porque,de maneira inesperada,o opositor,já um tanto velho,decidiu ir descansar.
RECOMPENSA
Quem é bem dotado,ou está disso convencido,já tem aí grande parte da recompensa a que se julga com direito. É como ter nascido em berço de oiro,pelo que não precisaria de mais oiro ter.
CANTO DESOLADO
Aquilo não era um deserto ,mas para lá caminhava. Não se via um riacho e muito menos um rio. As colinas sucediam-se,revestidas de vegetação rasteira e seca. Rocha granítica aflorava por toda a parte. Os carneiros que ali e acolá pastavam mostravam-se tristes por tão grande desolação. Assim andariam animais e gentes naqueles recuados tempos de aventuras sem conta. A fome seria sua companheira fiel ,irmanando-os. Lá ao longe,via-se um povoação,parda como tudo o resto. Apenas uma ou outra torre a denunciava. Lá dentro,em larga praça,dominava a estátua,em bronze,de um cavaleiro na sua montada. Fora assim,do alto do seu poder,que ele conquistara terras longínquas. Onde teria ele ido buscar tamanha energia? Ali perdido,naquele canto desolado do mundo,como lhe teria brotado aquela vontade forte que tanto obstáculo tivera de vencer? A magreza dos proventos seus ter-lhe ia dado a resistência das pedras que atapetavam o chão que magramente o sustentara. Teria sido ele quase uma pedra,volumosa como algumas à vista,que,rolando,esmagara,na sua passagem,tudo quanto lhe aparecera pela frente.
FESTIVAIS
Os festivais iam recomeçar. O local é,sem dúvida,atraente,pois um rio,com azenhas e praias,corre perto. Em vasto terreiro,levantara-se um enorme palco. A coisa prometia,como já acontecera. Uma velhota ia a passar. Então,o que nos diz dos ajuntamentos que aqui se têm dado? Não me fale nisso,desabafou ela,toda escandalizada. É uma pouca vergonha. Estão a ver ali aqueles milharais? Pois dormiam por lá. Foi uma estragação. Não os queremos cá mais. Uma mulher nova,com o filhito ao colo,era da mesma opinião.Não sei quem é que os autorizou. Coisas de gente que não é de cá e que se põe para aí a mandar que é um desatino. Não consultam o povo e depois têm-no à perna. Mas a terra ficou mais conhecida,muitas pessoas falam agora dela,o que não sucedia antes. Que nos importa a nós isso? Melhor seria que não fosse assim. E conhecida porquê? Por aqueles atrevimentos? Pois dispensamo-los. Isto é terra de gente simples e séria. Perguntem aí se gostariam de vê-los cá de novo. Tenho a certeza de que muito poucos concordariam. Se não podem passar sem eles,que os façam lá nas suas terras. Se para aí vierem outra vez,contrariando a vontade da maioria,é capaz de haver sarrabulho. Tão certo como eu me chamar Joaquina. Eu sei de uns tantos que estão muito dispostos a isso. O povo,quando lhe chega a mostarda ao nariz,pode ir às do cabo. Eu cá avisava-os. O melhor é esquecerem-se de uma vez .
sexta-feira, 25 de agosto de 2017
QUE SAUDADES
Pois ela tinha muito para contar. Durante anos,acreditara no destino,que fora assim que a sua mãe lhe ensinara. Mas,depois de muito pensar,chegara à conclusão de que não devia ser bem assim. Ainda que houvesse uma certa sina,com força de vontade tudo se podia alterar. E o caso dela era bem uma prova disso. Divorciara-se e estivera para morrer,ou melhor,entrara em forte depressão. Mas, com muito querer ,vencera-a. Naquela altura,sentia-se dona de si. Havia,porém,algumas didiculdades. Não tinha emprego e ficara com uma filha. O pai atrasava-se ,às vezes ,com a prestação. Estava ali a ver se ele já fizera o depósito em falta,que bem precisada se encontrava. A filha andava com muitas exigências. O que lhe valia era a mãe,coitada,que vivia de uma boa pensão. Passava a maior parte do tempo com ela,embora tivesse a sua casinha. Estava também atravessando um mau bocado. O prédio ia ser demolido e queriam pô-la num quarto com uma vizinha ou então davam-lhe dinheiro. Não sabia o que fazer.Vinha mesmo a calhar o fim do mundo. Aproximava-se o ano dois mil. Uma vizinha,muito crente, afiançara-lhe que o fim chegaria por fases. Por onde iria começar era a sua grande preocupação. Tudo isto a fizera desinteressar de muitas coisas,como de eleições. Nunca votara. Eram todos os mesmos. Só votaria num que a empregasse. Dantes não havia nada disto. Que saudades. Ela estava ainda nova e podia ser que as viesse a matar.
VIRAGEM HISTÓRICA
Não passavam aquelas rixas de umas brincadeiras. Pulavam,gritavam,gesticulavam,arreganhavam os dentes,arranhanhavam-se e pouco mais. Acabavam os contendores de ocasião por voltarem aos seus cantos,aos seus territórios,esfalfados,de cabeça baixa. Andavam por lá, mais uns tempos,a remoer. Para a próxima vez,a vitória estaria certa. A próxima vez chegava e a sensaboria repetia-se. Era uma grande e dupla tristeza,sem remédio à vista. Certo dia,um dia,aparentemente,como muitos outros do seu longo passado,aconteceu viragem histórica. Coisa do acaso,ou não,sabe-se lá. Andava ele,talvez um chefe,talvez um simples peão,por aqui,por ali,a fazer pela vida,no rasto de algum bichinho que lhe matasse a fome,quando dá com um monte de ossos de um pobre animal,que morrera de velho. Não seria aquilo novidade,mas ,desta vez,deu-lhe para tocar ali,tocar acolá,assim como a divertir-se. E de repente,pegou num fémur,ou numa tíbia,tanto faz,um osso comprido,enfim. Com ele na mão,talvez a direita,levantou o peludo braço,bem acima da sua cabeça desgrenhada. Assim esteve uns segundos,suspenso. Depois,como movido por uma ideia nova,descarregou-o,com força,no monte dos ossos. Estilhaços voaram à sua volta,como numa explosão. E uma nova ideia brotou. Parecia estar encontrado o remédio para aquela tristeza em que se andara envolvido tempos largos. No próximo recontro,o remédio foi usado. Que rico remédio. O inimigo,coitado dele,quase não deu luta. Fugiu,espavorido,mas disposto a desforra. Teria aprendido a lição. Para a vez seguinte se veria. Viria também brandindo ossos,ossos compridos,que era coisa que não faltaria por lá. Só que não lhes teria ocorrido usá-los. Não eram para ali uns atrasados empedernidos.
O GÁS DOS PÂNTANOS
Anda muita gente preocupada com o metano,por ser ele,como bem se sabe,um tremendo gás de efeito de estufa. Trata-se de um hidrocarboneto,o benjamim de família numerosa,o muito conhecido gás natural,o gás dos pântanos.
Para além das suas muitas jazidas,e dos pântanos,isto é,das "wetlands" desse vasto mundo,não têm conta as suas naturais fontes,como sejam o estômago dos ruminantes,os sedimentos das barragens,as térmitas,os arrozais,as lixeiras,o "permafrost" das regiões polares,e outras mais,até as plantas.
Na sua gestação,ainda que não totalmente,estão,como é sabido,bactérias anaeróbias. Como para viverem precisam de oxigénio, vão-no buscar onde o há,a matéria orgânica vária,tendo artes para alterar a valência do carbono a seu belo prazer,do que resulta,ente outras coisas,o metano. Um prodígio,há que concordar.
TER PENA DELES
Eram malabaristas da palavra,tendo armazéns delas. Procuravam enredar,confundir,deitando poeira para os olhos,quer dizer,debitando caudais delas. Mestres no sofisma,deleitavam-se com as suas conclusões enganosas. Assim é que se sentiam bem.
Embalados pelas suas aparentes vitórias,que só o eram para alguns,pavoneavam-se como triunfadores,chegando a convencer-se de que tinham saído vencedores.
A paciência que era preciso ter com eles,sabendo-se que não os demoviam,pois eram assim,
tinham nascido assim,gostavam de ser assim,morreriam assim,pelo que não havia nada a fazer,a não ser perdoar-lhes,e ter pena deles,que eles não sabiam o mal que a eles próprios infligiam
A INSTRUÇÃO
Não terá limites o ter. Havendo ensejos para mais ter,será um teimoso acumular. Para o reprimir,muito poderá fazer a instrução,alargando o leque dos interesses. Sobejará menos tempo para ter.
TER É TARDAR
Antes de adormecer,passavam em revista,demoradamente, as coisas possuídas,no temor de que alguma delas tivesse levado sumiço. Mal acordavam,iam logo a correr fazer o mesmo,pois,sabia-se lá o que lhes poderia ter acontecido.
Era,assim,um desassossego ,tanto à noite,como de manhã,e,muito provavelmente,durante o dia,e mesmo quando dormiam. Talvez por isso,havia quem não quisesse ter,de maneira a poder levar uma vida descansada.
"Ter é tardar".
quinta-feira, 24 de agosto de 2017
SEM TOCAREM NUMA PALHA
Ah,ele era isso? Queria dizer se ele tivesse duas galinhas,uma ficava para ele,sim senhor,mas a outra tinha de a dar,porque havia gente que nem uma tinha. Se era isso assim,então que passassem por lá muito bem,que em negócios daqueles não estava interessado. Tinha duas galinhas,era certo,mas trabalhara muito para as ter,os outros que nem uma tinham tivessem feito o mesmo. Os espertos,a quererem ter coisas sem fazer por isso,sem tocarem numa palha. Os espertos.
CALCÁRIO
Estavam preocupados,ou assim parecia,com a qualidade da água que saía das torneiras,pelo que se dispunham a alertar os utentes. Para isso,faziam um contacto telefónico prévio,a preparar uma visita-inquérito,prestando,desde logo,algumas informações.
Sabe,a água deve ter calcário. Desculpe,mas isso é que não pode ter,porque é uma rocha. O que quer dizer é que deve ter cálcio,ou melhor,o ião cálcio. Sim,é isso. E por ali se ficou.
O COSTUME
Por cerca de duas horas,as ruas da cidade despovoaram-se. Parecia estar-se à espera de uma coisa de outro mundo,talvez transcendente.Seguiu-se,logo depois,a vida costumeira. Afinal,acontecera o costume,nada mais.
EMCANTAMENTO
Estava um fim de tarde ameno de Setembro. Pequenos bandos de gaivotas dispersavam-se no areal extenso. Um ou outro casal de velhos passeava no empedrado fronteiro. O bulício de Agosto era já uma lembrança. Apetecia ficar ali,a sentir a aragem levemente fresca e a respirar o ar fortemente iodado. Ao longe,surge uma figura magra,sobraçando um livro,de mãos nos bolsos. Aproxima-se serenamente,pausadamente. No rosto,esboça-se um sorriso,talvez de encantamento. Era uma figura pública,simpática,respeitada. Dirige-se à esplanada. Senta-se e pousa o livro na mesa. Fica de perfil. Os seus olhos fitam-se no horizonte. Quase não se mexia. O livro jazia esquecido,na sua frente. Que pensamentos ocupariam aquela cabeça?,pródiga em opiniões,carregadas de saber,despidas de qualquer assomo de autoridade. Era aquele,afinal,o cenário que mais se quadrava com ele. A tranquilidade envolvente,o quase silêncio do céu e da terra,o esperguiçar manso das ondas,o azul em frente e acima. E ele ali sentado,sem dialogar,mas comunicando secretamente
VINTE E UM ANOS
A moça sorria,encantada com a sua juventude. Que idade tem ela? Vinte e um,respondeu a mãe. Quem nos dera a nós,considerou a outra. E o tom vinha carregado de tristeza. Ainda era solteira com esses anos,e o tom continuou igual,talvez até mais triste. Saudades? Arrependimento? A vida não lhe teria concretizado os sonhos. Os filhos,se calhar também os netos. Só canseiras. Se eu soubesse,quereriam transmitir os olhos magoados,a cara emagrecida,a cor pálida. Estaria convencida de que seria muito diferente? Igual,não desejaria,certamente,que fosse. Ilusões de quem não pára de sonhar. Mas o seu ar era de quem acabaria por trilhar as mesmas veredas, nem melhores,nem piores. As mesmas. Não havia para onde fugir. A casa lá está,e se for uma como deve ser andará com muita sorte. Os filhos aparecerão,com o cortejo obrigatório de gestos e passos de trabalho. As aflições com a saúde deles,o sustento,os estudos,de acordo com as posses,ou sabe-se lá mais de quê,permitirem. E depois,os namoros,as companhias,os empregos,talvez o casamento. Onde se há-de ir arranjar o dinheiro? Um bom padrinho e uma boa madrinha é que vinham mesmo a calhar. Sempre podiam acudir em alturas decisivas,no encarreirar,que isto está difícil. E a seguir,mais um neto,ou dois,ou mais,que nunca se sabe. Não sei para onde me hei-de voltar. Todos precisam de mim e eu que não posso. Ando para aqui cheinha de achaques e nem tempo tenho para ir ao médico. As horas que lá perderia e eu que não posso faltar aqui e ali,senão como é que eles se arranjariam? Não têm recursos para amas e muito menos para creches. Deus me vá dando saúde,para bem deles,que eu para mim já nada espero. O sorriso não abandonara a cara da moça. Tinha o futuro à sua frente e vê-lo-ia cor de rosa. Para quê pensar em precupações? Guardava-as para mais tarde. Quando viessem,logo se veria.
quarta-feira, 23 de agosto de 2017
QUE COISA BOA
Não cabia em si,de contente que estava. Via-se-lhe bem na cara,aberta num sorriso de deleite. Ser possuidora daquele brinquedo,ela que tão poucos,e muito modestos,teria tido quando era uma criança. Estar ali a andar e ao mesmo tempo poder conversar com este e com aquele. Parecia estar a chupar um caramelo gostoso,enquanto se ia dirigindo, pausadamente, para o trabalho.
Que coisa boa,que coisa boa,não se cansava ela de repetir. Nunca teria imaginado que,um dia,isso pudesse acontecer. Ali,em plena rua,chegavam-lhe notícias lá da sua terra distante.
Que coisa boa. Era caso para agradecer,não era? Concerteza,mas a quem? Não me pode dizer? Se morasse aqui perto,não me importava de lhe ir lá bater à porta. Estar aqui a ouvir a minha gente. Que coisa boa.
Nunca pensara nisso do agradecimento. Comprara aquele lindo brinquedo e,pronto,estava o assunto arrumado. Tinha mais em que pensar,ora se tinha. Mas uma vez que alguém o lembrara,achava isso mais do que justo.
Já se distanciara e ainda se podia ouvi-la. Que coisa boa,que coisa boa.
A VASSOURA
Coitadas daquelas oliveiras. Metiam dó,de tristes que ficavam. Parecia vê-las chorar,que aquilo não era fruto a cair,mas lágrimas que elas soltavam. E desfaziam-se elas,teimosamente,em tanta promessa. Mas uma doença maldita não as largava. Ainda esperaram que lhes acudissem,mas muito se enganaram. Para ali têm estado,pois, entregues à sua sorte,anos e anos. E o resultado de tanta comida e de tanta bebida,que o chão é úbere e a água abunda,é sempre o mesmo. Depois,os odores à sua volta,na fase terminal,são de fugir. Nem os pássaros,nem as formigas se atrevem a andar por ali. Uma desolação. De vez em quando,vem a vassoura e é o lixo o destino de toda aquela azáfama,que aquelas flores e aqueles frutos representam muito trabalho,que não se viu,mas que foi feito,disso não se pode duvidar. Razão forte têm aquelas oliveiras,portanto,para chorar. Mereciam melhor sorte,elas que são o símbolo de coisa muito séria.
terça-feira, 22 de agosto de 2017
A PASSEAR
Aquilo era como preso por ter cão e preso por não o ter. Se aparecia coisa escrita,não valia nada. Se não aparecia,é porque andara por lá a passear.
A UMA MESA
Uma dúzia de homens,às vezes,duas ou três dúzias ,conforme muita coisa,a uma mesa,ao ar mais ou menos livre. O que faziam? Jogavam,pois claro,ou assistiam,que os assentos não abundavam.
Jogavam. Assistiam.
POBRE DO SÓDIO
Pobre do sódio,parece um enjeitado. Havendo caminho livre,vai todo parar ao mar. É que a terra não o segura,ao contrário do que acontece com o potássio,o seu companheiro de algumas andanças.
DÚVIDA EXISTENCIAL
Naquele início de tarde,mais de uma dúzia de pedras da calçada já se não viam,por obra de um aterro que dava mostras de não se ficar por ali. E tudo isso pelo trabalho de uma numerosa e diligente família de formiguinhas,que estava construindo as suas instalações. Apenas fora deixado livre um corredor,via de saída e entrada no palácio.
Em toda aquela azáfama,havia,porém,uma coisa que destoava. É que,de vez em quando,uma ou outra obreira,em vez de descarregar o que lhe competia lá longe,fazia-o mesmo ali no corredor,ou por estar cansada,ou para se poupar. Aconteceria isso quando não havia testemunhas.
Quem lhes teria ensinado um tal proceder? Até formiguinhas se encostavam?De quem copiariam elas tal proceder ou estariam elas a dar maus exemplos? Dúvida imensa,dúvida existencial.
UM PASSARINHO
Pode dizer-se que não era ele de nenhuma terra,mas também não era um cidadão do mundo,nem lhe acudira uma tal classificação. Fora como que encontrado,e isso não escondia ele,até parece que disso se orgulhava. Era como tivesse sido de espontânea geração. Tudo quanto conseguira a ele o devia. E sentia-se livre como um passarinho,pousando onde lhe apetecesse,desde que riscos não corresse.
VIDA MUITO ENCALACRADA
Como é que os dois se haviam de entender se um só pensava na sua vida,uma vida muito encalacrada,que a via sem saída? Dizia este que os autocarros que ele reparava,pois era um operário,podia ele ajudá-los a construir,pois sabia-se fazê-los como os lá de fora.
Mas eu sei de quem é a culpa. É dessa gente lá de cima e a desses países do petróleo. Mas essses não fabricam autocarros. Isso é a sua opinião. Fique-se com ela,que eu fico com a minha. E dali não saía,embora para o fim já não estivesse com tantas certezas.
E para não dar o braço a torcer,saiu-se com mais outra razão,daquelas de arrasar. E sabe de quem é mais a culpa? O outro disse que não. Pois fique sabendo que enquanto isto estiver assim,eu receber só mais dois contos e os engenheiros quarenta,não se endireita.
Era isso que lhe enchia a cabeça,coitado. Não pensava em mais nada. Tudo o resto eram tretas. Mas apsar de tudo,apsar,talvez,até,de incluir também o outro no grupo daqueles que não deixavam que isto se endireitasse,não era homem de rancores,pelo que não se importou de perder um bocado do seu pouco tempo livre para o ajudar.
Subscrever:
Mensagens (Atom)