segunda-feira, 7 de março de 2016
QUE ALÍVIO
Não se pode imaginar como o velho ficou de contente. Ele que já estava a ver a vida a andar muito lá para trás,para os tempos em que ele era menino. As desgraças que ele via lá do seu postigo,só visto,contado não tinha graça mesmo nenhuma. Uns horrores era o que aquilo era.Velhinhos a pedirem uma esmolinha pelas alminhas daqueles que lá tinham,nos Cèus. Aquelas bichas intermináveis à porta de casas ricas,em dias certos,e de quartéis todos os dias.
E outras desgraças mais,em feiras,em romarias,nos cruzamentos,às esquinas,por toda a parte. Chagas ali,como numa montra,a solicitarem uma ajudazinha. E as moscas ali à roda. E os ranchos,que lá vinham das serras,para as vindimas,para as ceifas,para a azeitona,e que eram aboletados,como gado,em casas de malta? Uns horrores.
Mas o que ele estava a ler, naquela altura,em que uma alegria enorme o tomara,não era para menos. E não haverá ninguém que possa vir dizer que o velho não estava cheio de razão. É que o que ele estava a ler era--"Ao contrário da ideia corrente de que o Estado-Providência é coisa do passado,ele irá afirmar-se mais na América". Que alívio.
E outras desgraças mais,em feiras,em romarias,nos cruzamentos,às esquinas,por toda a parte. Chagas ali,como numa montra,a solicitarem uma ajudazinha. E as moscas ali à roda. E os ranchos,que lá vinham das serras,para as vindimas,para as ceifas,para a azeitona,e que eram aboletados,como gado,em casas de malta? Uns horrores.
Mas o que ele estava a ler, naquela altura,em que uma alegria enorme o tomara,não era para menos. E não haverá ninguém que possa vir dizer que o velho não estava cheio de razão. É que o que ele estava a ler era--"Ao contrário da ideia corrente de que o Estado-Providência é coisa do passado,ele irá afirmar-se mais na América". Que alívio.
SEM DESTINO
Há, pelo menos,duas maneiras de ser. Uma delas, é o ser por ser,pela comezinha razão de não se poder ser outra coisa,pois não pode haver,pelo menos é o que se diz,seres ao quadrado,ou mais ainda,assim como lá com os números. A outra,é o ser mais do que o outro,ali o vizinho do lado direito,por estar mais próximo,por se ver mais vezes. O mesmo parece passar-se com o ter,talvez por uma mera questão de imitação,quem sabe,que a originalidade custa mais. Uma delas,é o ter por ter,assim como um desporto amador,sem estar a pensar em competições. A outra,é coisa muito séria,tão séria que parece ser obra do diabo mais velho,daquele com muita experiência,muito batido. É o ter para ter mais do que o outro,que pode ser,à partida,o vizinho do lado,mas,depois,é um parar sem destino. É o ter sempre mais,e mais,e mais...
MANTA DE RETALHOS
Olhe que esse terreno não lhe vai servir para o ensaio,e quem o escolheu não sabe o que anda a fazer. É que um rebanho de ovelhas andou por ele tratando da sua vida. Havia,de facto,alguns vestígios sólidos da sua passagem. Dos líquidos,a análise logo os acusou.
As ovelhas tinham privilegiado certos sítios,pelo que aquilo era uma manta de retalhos. Onde se tinham mais demorado,os teores de potássio eram muito mais altos.
Serviu este caso para se ter mais cuidados na seleção de locais para ensaios,para os quais se exige a maior uniformidade.
As ovelhas tinham privilegiado certos sítios,pelo que aquilo era uma manta de retalhos. Onde se tinham mais demorado,os teores de potássio eram muito mais altos.
Serviu este caso para se ter mais cuidados na seleção de locais para ensaios,para os quais se exige a maior uniformidade.
domingo, 6 de março de 2016
PELA PRIMEIRA VEZ
A tentação de ser diferente,de ser isto e mais aquilo,está bem generalizada. Basta reparar nas vezes em que se ouve o "ninguém viu senão eu" ou outras expressões equivalentes. Só eles ou elas,e mais ninguém.
É claro que tal presunção é grosso atrevimento. Mas eles ou elas sabem-no muito bem,não são assim tão destituídos. Contam com a ignorância de muitos e a tolerância de outros tantos. Convencidos de que convencem,não têm emenda. Necessitam de assim atuar,quase como de pão para a boca,para se sentirem gente. Sem isto,não teriam o dia ganho.
Deixá-los pois,no seu convencimento aparente. Daqui talvez não venha grande mal ao mundo,que passaria bem sem eles ou elas. Felizmente que outros,porventura,meia dúzia deles e delas, assim se pode dizer,estão convencidos de muito pouco e que persistem no seu trabalho de procura. Estes,sim,é que, um dia,poderão vir a proclamar que viram pela primeira vez.
É claro que tal presunção é grosso atrevimento. Mas eles ou elas sabem-no muito bem,não são assim tão destituídos. Contam com a ignorância de muitos e a tolerância de outros tantos. Convencidos de que convencem,não têm emenda. Necessitam de assim atuar,quase como de pão para a boca,para se sentirem gente. Sem isto,não teriam o dia ganho.
Deixá-los pois,no seu convencimento aparente. Daqui talvez não venha grande mal ao mundo,que passaria bem sem eles ou elas. Felizmente que outros,porventura,meia dúzia deles e delas, assim se pode dizer,estão convencidos de muito pouco e que persistem no seu trabalho de procura. Estes,sim,é que, um dia,poderão vir a proclamar que viram pela primeira vez.
O PAU E O PÃO
O senhor Joaquim era um homem bom,muito humilde, que se contentava com muito pouco. Nascera já assim,fora sempre assim,dizia ele que não tinha culpa de ser assim. Tinha,porém,lá as suas teimas. Quando embirrava lá para um lado,ninguém o conseguia demover. Eram as suas fixações,ou como lhe quisessem chamar,que ele não se importava,estava por quase tudo.
E então que fixações eram essas,ou lá o que aquilo era? Eram duas,a bem dizer. Uma delas, parecia indicar que ele acreditava em Deus. Ora vejam lá,se não parecia mesmo isso. Dava,a cada passo,sobretudo quando ninguém o ouvia,muitas graças ao Criador por ter nascido pobre. Ele não dizia porquê,mas ele lá teria as suas razões. De resto,nunca ninguém se lembrou de lhe perguntar,o que foi uma pena,porque,sabe-se lá,podia ter brotado dali a mezinha para tanto mal. A outra,era assim como que uma adivinha. Ora vejam lá se não era. Que o que eles,nunca dizia quem eram eles,precisavam era de um pau na mão,e na outra o pão.
E então que fixações eram essas,ou lá o que aquilo era? Eram duas,a bem dizer. Uma delas, parecia indicar que ele acreditava em Deus. Ora vejam lá,se não parecia mesmo isso. Dava,a cada passo,sobretudo quando ninguém o ouvia,muitas graças ao Criador por ter nascido pobre. Ele não dizia porquê,mas ele lá teria as suas razões. De resto,nunca ninguém se lembrou de lhe perguntar,o que foi uma pena,porque,sabe-se lá,podia ter brotado dali a mezinha para tanto mal. A outra,era assim como que uma adivinha. Ora vejam lá se não era. Que o que eles,nunca dizia quem eram eles,precisavam era de um pau na mão,e na outra o pão.
sábado, 5 de março de 2016
A PRIMA RITA
Ninguém é profeta na sua terra. Não há quem valha para o seu criado de quarto. Santos da casa não fazem milagres. A catástrofe e a lei das emoções. E foi toda a minha gente visitar a prima Rita,que acabara de esfolar um braço. Como é que as coisas podem correr bem numa freguesia destas?
CIDADE E CAMPO
O galo da cidade não imaginava o bem que ele fazia, sempre que lhe dava para cantar. Parecia,
por breves momentos,que se tinha,ali,o campo.
por breves momentos,que se tinha,ali,o campo.
GALO DA CIDADE
Não falhava o galo. Todas as manhãs, lá dava ele acordo de si,como só os galos sabem fazer. Fazia isso vezes sem conta.
Mas,talvez por ser galo de cidade,acordava tarde,já o meio-dia ia chegando.
Mas,talvez por ser galo de cidade,acordava tarde,já o meio-dia ia chegando.
PREGUIÇA
A professora de francês queria que os seus alunos trabalhassem,estudassem,não mandriassem. Então,contou-lhes o que é que certo galo cantava e tornava a cantar,teimosamente. C'est moi le coq. Je chante avant le jour. Je fais la guerre à la paresse. C'est moi le coq...
sexta-feira, 4 de março de 2016
VARINAS
Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas,à cabeça,embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.
De O SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL,
CESÁRIO VERDE
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas,à cabeça,embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.
De O SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL,
CESÁRIO VERDE
ER A VIDA
Coitada da velhota,muito carregada ia ela. É que lá em casa não bebiam água da torneira,e não paravam de comer. E era ela que tinha de ir às compras,que os outros tinham mais em que se entreter. Mas era a vida,o que se havia de fazer?
NADA A FAZER
Diante da precaridade da vida,a cada momento provada,eram inexplicáveis a vaidade,a presunção,a soberba,a pretensão,o convencimento,a importância,o olhar de cima. Mas não havia nada a fazer,que,acontecesse o que acontecesse,toda esta família,e demais parentes,continuariam a desfilar. Eram assim.
NEM SÓ DE PÃO
Era caso para muito pensar. Uma vida inteira sem produzir nada que se visse,coisa de comer,ou de beber,ou de usar. Viviam de palavras,ou faladas,ou escritas.
Uma saída,pelo menos,havia, para tranquilizar. E era que nem só de pão vive o homem.
Uma saída,pelo menos,havia, para tranquilizar. E era que nem só de pão vive o homem.
quinta-feira, 3 de março de 2016
LINDO PRÉDIO
Aqueles passeios todos esburacados não podiam ficar assim,a fazer má companhia ao bonito prédio que estava a levar os últimos retoques,sobretudo, nos interiores ajardinados. Ficavam mal,afastariam alguns intereressados em lá viver,ainda que os não utilizassem,mas,acima de tudo,os que o procurariam.
E assim, ali estavam alguns calceteiros,sentados,ajoelhados,a pôr pedrinhas como devia ser,para os passeios se parecerem com aquele lindo prédio,de mármores,de vidros,de largas entradas para amplo e ajardinado recinto, onde lojas se iriam abrir.
E assim, ali estavam alguns calceteiros,sentados,ajoelhados,a pôr pedrinhas como devia ser,para os passeios se parecerem com aquele lindo prédio,de mármores,de vidros,de largas entradas para amplo e ajardinado recinto, onde lojas se iriam abrir.
TUDO INCLUÍDO
Um exagero,uma exorbitância,podes crer. Duzentos euros,por um par de lentes. A vida está que não se pode.
Ah,mas isso é de graça,quinhentos euros por uma semana em Nova Iorque,tudo incluído. É de não pensar duas vezes.
Ah,mas isso é de graça,quinhentos euros por uma semana em Nova Iorque,tudo incluído. É de não pensar duas vezes.
UM CASO DE CORREÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO COM CALDA BORDALESA
Num estudo sobre solos derivados de granitos de várias regiões,houve ocasião para colher amostras de um solo em que a cultura era uma vinha tratada com calda bordalesa contra o míldio. Consideraram-se duas profundidades,0-20 e 20-40 cm. Os dados analíticos do pH,do Ca de troca(mg/100g) e do Mg de troca(mg/100g) são os seguintes:
camada 0-20cm - pH(6,3);Ca(73,1);Mg(5,2)
camada 20-40cm- pH(5,5);Ca(57,6);Mg(5,3)
O valor 5,5,ou próximo,era o normal da região. Como explicar assim o valor 6,3 da camada o-20? Da história dos amanhos culturais não constava qualquer calagem do tipo clássico. O causador parecia ser,só podia ser,a calda bordalesa, por via do seu óxido de cálcio.Tendo em conta o número de aplicações,ter-se-ia feito,por ano,uma calagem equivalente a 300 Kg/ha de CaCo3,que,com a ajuda da fraca tamponização do solo,fizera subir o pH e o Ca de troca apreciavelmente,não bulindo no Mg de troca.
camada 0-20cm - pH(6,3);Ca(73,1);Mg(5,2)
camada 20-40cm- pH(5,5);Ca(57,6);Mg(5,3)
O valor 5,5,ou próximo,era o normal da região. Como explicar assim o valor 6,3 da camada o-20? Da história dos amanhos culturais não constava qualquer calagem do tipo clássico. O causador parecia ser,só podia ser,a calda bordalesa, por via do seu óxido de cálcio.Tendo em conta o número de aplicações,ter-se-ia feito,por ano,uma calagem equivalente a 300 Kg/ha de CaCo3,que,com a ajuda da fraca tamponização do solo,fizera subir o pH e o Ca de troca apreciavelmente,não bulindo no Mg de troca.
DE QUEM É A CULPA?
Alguém tinha de fazer certo trabalho. Mas as ricas férias,é que ele não podia dispensar. Andava arrasado,talvez de não fazer nada. E do que é que ele se lembrou? Arranjar um que o substituisse. E foi-lhe fácil. Havia ali um moço que só fora ensinado a dizer sim. Um não era grave,podia significar ter de ir dar uma volta.
O trabalho foi feito,mas como era de esperar,muito mal feito. Teria sido melhor,até,não o ter feito. Aquilo merecia castigo. Mas coitado do rapaz. Metia dó. De resto,não era ele que o devia suportar. Ero o outro, o que andava por lá,recuperando da fadiga de não fazer nada. E esse,coitado também,merecia o mesmo perdão. Não eram eles os culpados. De quem seria a culpa? Sabe-se lá. A água já corre há tanto tempo. Sabe-se lá por onde ela tem passado. E sabe-se lá que pés pisaram esses muitos sítios. De quem é a culpa?
O trabalho foi feito,mas como era de esperar,muito mal feito. Teria sido melhor,até,não o ter feito. Aquilo merecia castigo. Mas coitado do rapaz. Metia dó. De resto,não era ele que o devia suportar. Ero o outro, o que andava por lá,recuperando da fadiga de não fazer nada. E esse,coitado também,merecia o mesmo perdão. Não eram eles os culpados. De quem seria a culpa? Sabe-se lá. A água já corre há tanto tempo. Sabe-se lá por onde ela tem passado. E sabe-se lá que pés pisaram esses muitos sítios. De quem é a culpa?
UM SUFOCO
O tio Joaquim é que parecia ter razão,o tio Joaquim que morava ali no rés-de-chão frente,e que,agora,já lá não mora,não se sabendo porquê,talvez tivesse ido desta para melhor,que ele,coitado,nos últimos tempos, já não andava lá muito bem.
Pois o tio Joaquim dizia a quem o queria ouvir,embora quase ninguém lhe ligasse,o que parecia não o apoquentar,dizia que o mundo não tem conserto,que é um mundo do faz de conta,das esmolinhas,das importâncias,das grandezas,do vira o disco e toca o mesmo,dos projetos- piloto,das metas sempre adiadas,das decisões para o caixote do lixo,das crises eternas,do salve-se quem puder.
Com tantas inteligências,continuava ele a dizer,com tantas sumidades,com tantos mestres,com tantos sábios,com tantos Nobel,e não haver um que conseguisse pôr o mundo nos eixos,que o endireitasse,que acabasse com a fome,com as barracas,com a miséria,com as desconfianças,as ambições,as vaidades,as invejas,com toda essa tralha de coisas inúteis,que já há muito se devia ter sumido nas profundezas para sempre,à semelhança de muito matéria orgânica,para que houvesse um ar respirável,que,como estava,era um sufoco.
Pois o tio Joaquim dizia a quem o queria ouvir,embora quase ninguém lhe ligasse,o que parecia não o apoquentar,dizia que o mundo não tem conserto,que é um mundo do faz de conta,das esmolinhas,das importâncias,das grandezas,do vira o disco e toca o mesmo,dos projetos- piloto,das metas sempre adiadas,das decisões para o caixote do lixo,das crises eternas,do salve-se quem puder.
Com tantas inteligências,continuava ele a dizer,com tantas sumidades,com tantos mestres,com tantos sábios,com tantos Nobel,e não haver um que conseguisse pôr o mundo nos eixos,que o endireitasse,que acabasse com a fome,com as barracas,com a miséria,com as desconfianças,as ambições,as vaidades,as invejas,com toda essa tralha de coisas inúteis,que já há muito se devia ter sumido nas profundezas para sempre,à semelhança de muito matéria orgânica,para que houvesse um ar respirável,que,como estava,era um sufoco.
UNS POBRETANAS
Coitado do velhote. Ele que andava,naquela altura,muito mais tranquilo,tão tranquilo,que até parecia adivinhar qualquer coisa muito estranha que com ele se estava passando. Estranho ou não,o certo é que ele nem parecia o mesmo de tempos passados,sempre ralado,sempre a lastimar-se,mas nunca revelando o que era. Aquilo era com ele,ninguém tinha nada com isso. Queriam saber,mas tirassem dali o sentido. E fazia um risozinho muito misterioso.
Qual coitado,qual carapuça. Afinal,a coisa estranha,de estranha nada tinha,nem mais,nem menos,uma fortuna inesperada,pois ele para ali não tinha metido nem prego, nem estopa. Vira-se com ela,assim como uma de magia. Mas mágica é que ela não era,mas sim dinheirinho verdadeiro.
Mas o que lhe havia de suceder,pois passou mesmo,de novo,a coitado. É que não havia cão,nem gato,que esquecesse uma coisa daquelas. Então não querem lá ver o diabo do velhote? Parecia que não tinha onde cair morto,afinal está ali rico, que até pode fazer pouco da gente,para aqui uns pobretanas.
Coitado do velhote. Assim com toda a gente a implicar com ele não tinha graça nenhuma. Paciência,pedia ele a si mesmo,paciência. O melhor é dar o dinheiro aos pobrezinhos .Não lhes resolvo os seus muitos problemas pois eles são muitos,mas, ao menos, livro-me das patadas que não se cansam de me dar,que até já nem tenho sítio do meu velho corpo sem uma nódoa negra.
Qual coitado,qual carapuça. Afinal,a coisa estranha,de estranha nada tinha,nem mais,nem menos,uma fortuna inesperada,pois ele para ali não tinha metido nem prego, nem estopa. Vira-se com ela,assim como uma de magia. Mas mágica é que ela não era,mas sim dinheirinho verdadeiro.
Mas o que lhe havia de suceder,pois passou mesmo,de novo,a coitado. É que não havia cão,nem gato,que esquecesse uma coisa daquelas. Então não querem lá ver o diabo do velhote? Parecia que não tinha onde cair morto,afinal está ali rico, que até pode fazer pouco da gente,para aqui uns pobretanas.
Coitado do velhote. Assim com toda a gente a implicar com ele não tinha graça nenhuma. Paciência,pedia ele a si mesmo,paciência. O melhor é dar o dinheiro aos pobrezinhos .Não lhes resolvo os seus muitos problemas pois eles são muitos,mas, ao menos, livro-me das patadas que não se cansam de me dar,que até já nem tenho sítio do meu velho corpo sem uma nódoa negra.
quarta-feira, 2 de março de 2016
GENTE MUITO VIAJADA
Só ali,naquela terra,é que se via uma coisa daquelas,uma vergonha. E não se cansavam de o repetir.
Quer dizer,era gente muito viajada. Tinham andado por lá, demoradamente,convivendo muito. Podiam,assim,dizer de sua justiça,fazer comparações,opinar,classificar.
Quer dizer,era gente muito viajada. Tinham andado por lá, demoradamente,convivendo muito. Podiam,assim,dizer de sua justiça,fazer comparações,opinar,classificar.
IRREQUIETOS
Raramente passava gente por ali. Talvez por isso, os pombos das redondezas procuravam aquele recatado e amplo espaço. Pousavam onde mais lhes apeteceria,em altos postes,nos telhados,no chão,sítios assim. Mas eram eles muito irrequietos,não aquecendo lugar.
De repente,levantavam voo,mudando de poiso. Não se via razão para esse mudar. Não bulhavam,não se ouvia um ruído,não fazia uma aragem mais forte. Quer dizer,teriam nervoso miudinho,ou andaria por lá algum bichinho que os estivesse a incomodar demasiado.
É que eles,de vez em quando,davam grandes bicadas neles mesmos. Estariam com a mosca.
De repente,levantavam voo,mudando de poiso. Não se via razão para esse mudar. Não bulhavam,não se ouvia um ruído,não fazia uma aragem mais forte. Quer dizer,teriam nervoso miudinho,ou andaria por lá algum bichinho que os estivesse a incomodar demasiado.
É que eles,de vez em quando,davam grandes bicadas neles mesmos. Estariam com a mosca.
PRIVILÉGIOS
Era uma corrida universal ao bem-estar,não escapando um cantinho sequer. Mais do que isso,podia dizer-se,era uma corrida universal aos privilégios.
Não adiantava estar a esmiuçar esses privilégios,e não,pela razão comezinha de que todos privilégios eram. O que adiantava era sublinhar que esses privilégios só podiam calhar a alguns,uma meia dúzia,se tanto,para esses alguns ficarem muito,muito,satisfeitos. Se tal não acontecesse, a vida deixaria de ter qualquer interesse.
Estava-se mesmo a ver que assim não se iria lá. Ou eram privilégios para todos,sem um escapar,ou,então,não haveria um privilégio para um sequer.
Não adiantava estar a esmiuçar esses privilégios,e não,pela razão comezinha de que todos privilégios eram. O que adiantava era sublinhar que esses privilégios só podiam calhar a alguns,uma meia dúzia,se tanto,para esses alguns ficarem muito,muito,satisfeitos. Se tal não acontecesse, a vida deixaria de ter qualquer interesse.
Estava-se mesmo a ver que assim não se iria lá. Ou eram privilégios para todos,sem um escapar,ou,então,não haveria um privilégio para um sequer.
ERA ASSIM
Era uma sociedade condenada ao insucesso por estar estruturada,apostada, no sucesso. Não tinham conta as pedras de tropeço. E eram os previlégios,as cobiças,as suspeições,as vitórias,as rivalidades,as tensões,os traumas,as derrotas,o à volta cá te espero,as ambições,um nunca mais acabar,o costume. Não havia volta a dar-lhe. Era assim.
MUITA GATUNAGEM
A casa estava cheia,pelo que a espera seria grande para alguns. Deu isso para conversar. Está a chegar a minha vez. Dê-me o dinheiro que eu peço também para si. Não se incomode,pois tenho tempo de sobra. Mas é muita gentileza a sua,pelo que lhe fico muito agradecido.
O que é que ele queria? Ainda bem que não foi nessa,que anda para aí muita gatunagem. São uns atrevidos. Temos de nos precaver.
Desconfianças,ou sabe-se lá mais o quê? É o diabo. Como é que isto se há-de endireitar?
O que é que ele queria? Ainda bem que não foi nessa,que anda para aí muita gatunagem. São uns atrevidos. Temos de nos precaver.
Desconfianças,ou sabe-se lá mais o quê? É o diabo. Como é que isto se há-de endireitar?
UM "INIMIGO"
A jornada fora longa,e ele vinha que não podia mais. Finalmente,o carro parou na terra do seu destino,uma terra que ele não conhecia.
Saiu do carro,muito aflito. Alguém lhe tinha de valer,sem demora. Ali muito perto,estava um"inimigo",que,sem regateios,se portou como um amigo. Vá-se lá entender uma coisa destas.
Saiu do carro,muito aflito. Alguém lhe tinha de valer,sem demora. Ali muito perto,estava um"inimigo",que,sem regateios,se portou como um amigo. Vá-se lá entender uma coisa destas.
NÃO PRESTA
Ninguém é perfeito,toda a gente o sabe. E uma vez por outra,mete-se o pé na poça,pisa-se o risco,faz-se um disparate,vá-se lá saber porquê.
E um dia,alguém que se atreveu a meter a cabeça de fora é coscuvilhado. Seguem-lhe o rasto à cata de uma maldade. Havemos de te apanhar.
E lá descobrem a mancha,a nódoa. Não dizíamos? O homem,ou a mulher,não presta.
E um dia,alguém que se atreveu a meter a cabeça de fora é coscuvilhado. Seguem-lhe o rasto à cata de uma maldade. Havemos de te apanhar.
E lá descobrem a mancha,a nódoa. Não dizíamos? O homem,ou a mulher,não presta.
terça-feira, 1 de março de 2016
LÁ EM CASA É QUE NUNCA
Não pode estar de pé,que as pernas não deixam,e a idade também não,e sabe-se lá mais o quê. E então,fica sentado todo o tempo que ali permanece,que lá em casa é que nunca. Ali está com os seus,que pouco lhe ligam,é certo,mas ele faz de conta. Ali,há movimento,ali, conversa-se,onde eie não entra,ali, bebe-se,ainda que ele nem um copinho,que o dinheiro não dá. Todos estes nãos ele os deita para trás das costas,e até sorri. Sempre está ali melhor,que lá em casa é que nunca.
MUITO SATISFEITO
Era aquilo uma tática,e bem afinada,pois de antigo uso. E tudo isto, por muito raramente ter a iniciativa de conversa com um qualquer. Assim,mal o outro abria a boca,adiantava-se logo,cortando-lhe a palavra. Como é que o outro haveria de ficar? Sem vontade de continuar,
certamente,de resto,o que ele pretendia. Ficava,assim,muito satisfeito. Era como uma espécie de vitória ao contrário,uma vitória negativa.
certamente,de resto,o que ele pretendia. Ficava,assim,muito satisfeito. Era como uma espécie de vitória ao contrário,uma vitória negativa.
PARES DE OLHOS
Pares de olhos era o qua se via por onde o foco passava. Pareciam estrelas,ali muito mais perto. Estariam como que imobilizados os pobres bichinhos. Não eram olhos que interessassem,senão estariam bem arranjados,nem alma se lhes aproveitaria. Escaparam naquela vez. Eram outros os olhos procurados. Levou seu tempo. Encontrados eles,adeus erva tenra do vale,que não mais te vejo.
AOS MONTES
O que é que se passará para dois lugares de primeira estarem como que ali às moscas? Um,está cheio de livros, o outro,de quadros. O dos livros,já se sabe,tem entrada franca,o dos quadros,também,para residentes,que são aos montes,incluindo os mais velhinhos. Destes,há uns tantos,aos montes,que se entretém,mesmo em frente dos dois"monumentos",como numa provocação,a jogar às cartas,ou em observação. O que se passará?
CANTIGAS
Olhe,vizinha,sabe o que lhe digo?,tudo isso que dizem para aí a respeito dessa senhora, não sei se é verdade,que eu não estava lá,não vi. Mas uma coisa lhe posso dizer,de fonte segura,pois que comigo se passou. Devo-lhe muito, e Deus a conserve por muitos e bons anos por isso. Devo-lhe muito,e isso é que me importa,o resto são cantigas. Está ali uma santa,é o que lhe digo.
ABRIR DE BOUCA
Ele sentia-se definitivamente arrumado,tantos eram os sinais de enfado à sua volta,à sua beira. Podia dizer-se que era um vivo já morto. Tudo concorria para essa definitiva arrumação. Para além das ausências,havia os abrir de boca, mal ele contava pela primeira vez alguma coisa,os essas estavam fartos de ouvir,os estão com muita pressa por terem uma vida muito atarefada,e muitas coisas mais,que não valia a pena apontar,que muito conhecidas eram,sendo escusado,até,ter referido as que atrás ficaram,para perfazer meia dúzia de linhas. É a vida,a que ninguém escapa,e muito menos um vivo já morto.
ENCRENCADA VIDA
O moço emudecia,volta não volta,preocupando os companheiros. A conversa como que esfriava. Não admirava,pois,que lhes desse para quererem saber do motivo daqueles silêncios,daqueles aparentes desinteresses. Não era nada,e por ali se ficava,ainda que os reparos mais o encasulassem.
Aquele estar devia ter uma causa,uma forte causa,uma causa não rara. É que o rapaz vivia atulhado em dificuldades. Tinha lá,pois,disposição para participar. Cansado andava ele de dialogar consigo mesmo,em tentativas de encontrar uma saída para a sua encrencada vida.
O que mais lhe apetecia era fugir,mas a isso estava impedido. Se acaso o fizesse,adeus minhas ricas encomendas. Seria o seu fim,um fim triste,irremediável. Não tinha outra solução senão ficar,acompanhar,mesmo que mais reparos viessem. Inventaria desculpas,para as quais imaginação não lhe faltava.
E ssim se manteve por largo tempo. Ao fim dele,pode aliviar-se,pode descontrair-se,não muito,o suficiente para que não houvesse lugar a estranhezas. A sua vida modificara-se de maneira a ser ele a poder notar os emudecimentos de outros
Aquele estar devia ter uma causa,uma forte causa,uma causa não rara. É que o rapaz vivia atulhado em dificuldades. Tinha lá,pois,disposição para participar. Cansado andava ele de dialogar consigo mesmo,em tentativas de encontrar uma saída para a sua encrencada vida.
O que mais lhe apetecia era fugir,mas a isso estava impedido. Se acaso o fizesse,adeus minhas ricas encomendas. Seria o seu fim,um fim triste,irremediável. Não tinha outra solução senão ficar,acompanhar,mesmo que mais reparos viessem. Inventaria desculpas,para as quais imaginação não lhe faltava.
E ssim se manteve por largo tempo. Ao fim dele,pode aliviar-se,pode descontrair-se,não muito,o suficiente para que não houvesse lugar a estranhezas. A sua vida modificara-se de maneira a ser ele a poder notar os emudecimentos de outros
DISPARATES
É um deitar a baixo,é um desfazer interminávies. Ah,esta estrutura humana suicidiária. É sempre um dizer mal. Nada de sinergias. É sempre um repelir. É sempre um de costas viradas. Nada de abraços,só encontrões,ou ausências.
Olha,se em outros corpos tal sucedesse? Estávamos bem arranjados. Nos corpos vegetais,nos corpos dos animaizinhos.
Se,um dia,a clorofila se zangasse, e deixasse de gostar do CO2? Ou ,se a hemoglobina lhe desse para desprezar o O2? Tínhamos de ir dar uma grande volta,da qual não regressaríamos.
Mas estes acasos não colhem. São uns disparates,daqueles sem dimensão à vista.
Que atrevimento. A querer impressionar o homem e a mulher,que estão ambos no mesmo barco,por sinal,um barco a modos que redondo,que roda,roda,sem parar,que é o homem ,ou a mulher,a conduzirem. Oh,conduzes,vou ali já venho.
Fazem-se muito fortes,o homem e a mulher,mas, coitados,não passam de uns bonequinhos, a quem deram corda. E agora,e antes,é vê-los todos senhores de si,a olhar para o seu umbigo,que foi por ali que quase tudo começou.
Já se viu uma coisa destas? Se desaperecessem? Continuaria o resto na mesma,ou melhor. Se fosse o resto a desaparecer,pobres do homem e da mulher. Iriam desta para melhor.
Olha,se em outros corpos tal sucedesse? Estávamos bem arranjados. Nos corpos vegetais,nos corpos dos animaizinhos.
Se,um dia,a clorofila se zangasse, e deixasse de gostar do CO2? Ou ,se a hemoglobina lhe desse para desprezar o O2? Tínhamos de ir dar uma grande volta,da qual não regressaríamos.
Mas estes acasos não colhem. São uns disparates,daqueles sem dimensão à vista.
Que atrevimento. A querer impressionar o homem e a mulher,que estão ambos no mesmo barco,por sinal,um barco a modos que redondo,que roda,roda,sem parar,que é o homem ,ou a mulher,a conduzirem. Oh,conduzes,vou ali já venho.
Fazem-se muito fortes,o homem e a mulher,mas, coitados,não passam de uns bonequinhos, a quem deram corda. E agora,e antes,é vê-los todos senhores de si,a olhar para o seu umbigo,que foi por ali que quase tudo começou.
Já se viu uma coisa destas? Se desaperecessem? Continuaria o resto na mesma,ou melhor. Se fosse o resto a desaparecer,pobres do homem e da mulher. Iriam desta para melhor.
OS PRINCÍPIOS E O FIM
Esta é a história,muito,muito, resumida,que o tempo é dinheiro,que o papel dinheiro é,e também a paciência,de um povo que muito se prezava pelo seu entranhado amor aos princípios. Nunca por nunca os atraiçoariam. Defendê-los-iam até ao ponto de sacrificarem as suas vidas. Mas adiante,que o tempo,o papel,a paciência são dinheirinho,nunca isto deve ser esquecido.
Pois esses princípios foram o seu fim. Tem isto quase graça,mas o caso não tem mesmo graça nenhuma. Mas avance-se que a paciência é dinheiro.
E a coisa,como se avisou,desde o princípio,conta-se depressa. Aquele povo ,para sobreviver,necessitava,como de pão para a boca,de água. Mas não só de água ,também de energia,que viria de uma parte dessa água. De uma cajadada,matariam dois coelhos,metaforicamente falando.
Para as ter,água e energia,tinham de sacrificar,porém, meia dúzia de respeitáveis memórias do seu passado glorioso. Ora esse povo,povo único,povo de heróis, antepunha a tudo,mesmo a sua existência,a preservação desse tesouro. Ou ele,ou nós,era um dos seus lemas.
Portanto,nem pensar em molestá-lo,nem que fosse um mísero bocadinho. Seria um sacrilégio,seria uma traição. Só por cima dos seus cadáveres. Dali não saíam.
O tempo foi passando,o tal que é dinheiro,e também vida,neste caso concretíssimo. O tempo foi passando,e nas suas pobres mãos viam-se apenas os princípios. Veio um ar,uma simples brisa,um ligeiro bafo,e foram-se,levando com eles,muito a eles abraçados,muito agarradinhos a eles,os princípios. Os princípios e o fim.
Pois esses princípios foram o seu fim. Tem isto quase graça,mas o caso não tem mesmo graça nenhuma. Mas avance-se que a paciência é dinheiro.
E a coisa,como se avisou,desde o princípio,conta-se depressa. Aquele povo ,para sobreviver,necessitava,como de pão para a boca,de água. Mas não só de água ,também de energia,que viria de uma parte dessa água. De uma cajadada,matariam dois coelhos,metaforicamente falando.
Para as ter,água e energia,tinham de sacrificar,porém, meia dúzia de respeitáveis memórias do seu passado glorioso. Ora esse povo,povo único,povo de heróis, antepunha a tudo,mesmo a sua existência,a preservação desse tesouro. Ou ele,ou nós,era um dos seus lemas.
Portanto,nem pensar em molestá-lo,nem que fosse um mísero bocadinho. Seria um sacrilégio,seria uma traição. Só por cima dos seus cadáveres. Dali não saíam.
O tempo foi passando,o tal que é dinheiro,e também vida,neste caso concretíssimo. O tempo foi passando,e nas suas pobres mãos viam-se apenas os princípios. Veio um ar,uma simples brisa,um ligeiro bafo,e foram-se,levando com eles,muito a eles abraçados,muito agarradinhos a eles,os princípios. Os princípios e o fim.
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