terça-feira, 15 de agosto de 2017
ADOÇA A BOQUINHA AO MENINO
Que cuidados vão por aí com aquilo que se come.É mesmo de os comparar com os que se tinham lá no passado longínquo,é mesmo de lembrar algumas iguarias desse perdido tempo.
As amoras das silvas,à beira dos caminhos,revestidas de poeiras para todos os gostos. As uvas,tal como se encontravam nos cachos. A fruta integral,sem uma simples esfregadela na manga da camisa ou do casaco. As amoras das amoreiras,lá no alto, ou até no chão,a escorrerem açúcar.
Nas feiras,nada se enjeitava. As cavacas das Caldas,em grandes cestos,ali bem expostas às nuvens de detritos que o vento levantava,à passagem do que quer que fosse,veículos,animais,
pessoas. Os pinhões em colares,fabricados por mãos naturais. Os figos,secos ao ar livre,visitados por sucessivos exércitos de mosquitos,moscas,moscardos e outros que tais. Os torrões -de -Alicante,sem qualquer resguardo. Os bolos secos e cremosos,os tremoços,as pevides,as alfarrobas,as castanhas piladas. Marchava tudo e que viesse mais.
Depois,aqueles doces feitos de açúcar em caramelo,espetados em pauzinhos,com formas e cores as mais variadas. Quem os vendia e apregoava eram,quase sempre,velhotas,a necessitar de uns cobres,que a vida não estava para brincadeiras. O jeito que elas tinham para atrair a pequenada. Quem podia resistir ao adoça a boquinha ao menino? Aqui,os mais idosos procuravam lançar a suspeição,insinuando que no fabrico entrava muco de velhas.
E agora? Lava-se,desinfeta-se,esteriliza-se. A natureza deixou de ser natural. Persistem excepções,claro. E os gostos não se discutem,e os hábitos são os hábitos,são uma segunda natureza. É ir por essas feiras. As bancadas que por lá ainda se vêem. Aqueles ricos bolinhos,com muitos cremes,a despertar as atenções e a gulodice de Zés,de Marias,das diversas famílias aladas. É ver aquele ou aquela que chega primeiro.
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