sábado, 7 de março de 2015

MAGRO CHÃO

Aquilo era uma carga de trabalhos. Terra havia,mas a rocha granítica aflorava a cada passo. Os cuidados que eram obrigados a ter para não molestar as aivecas. Volta não volta,lá se ia uma relha. Eram curvas e contracurvas,pois raramente se via pela frente tracto sem tropeços. Mas a vontade e a necessidade de arrancar daquele magro chão alguma coisa que se visse eram de respeito. Fora o que lhes coubera em rifa e ainda tinham de se dar por muito afortunados,já que tantos nem um quintalito lhes saíra.
É claro que isto não dava para manter a família como alguns queriam. E assim,lá iam esgravatar por outras bandas,fazendo uso de dons que Deus lhes dera. Uns,mais audazes,até se atreviam a ir para longe por temporadas.
Mas quando chegava a ocasião da ceifa ,lá se arranjavam para estarem presentes. E aquela rocha que tantas aflições lhes trouxera,quando das sementeiras,servia-lhes,agora,de eira. Lages não faltavam,com as dimensões e a forma requeridas. Para o grão não se quebrar com o bater dos malhos,tinham de os revestir com uma película elástica. E não havia melhor protecção do que a fabricada com bosta de vaca. Era prática que se perdia no tempo,talvez do tempo dos árabes ou de um mais detrás,e que nunca tinham abandonado. Não consta que alguma vez o pão fosse rejeitado por isso. Saber-lhes-ia sempre a coisa caída do céu.

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