quinta-feira, 5 de março de 2015

ESPADELADA

Afinal,ainda havia espadeladeiras. Seriam umas vinte,algumas vestidas a rigor,recriando tempos passados. Fizeram roda,cantando com alma,sob a batuta do regente,todo senhor das suas funções.
O terreiro apinhou-se,que a noite colaborava. Alguns procuraram janelas e escadas,pois a muralha dos que se tinham adiantado não facilitava a visão do espectáculo. O linho era batido como mandavam as boas regras em espadeladores de cortiça.
O tomento impregnava os ares,fazendo debandar os mais fracos,aí uma meia dúzia,se tanto. Causava espanto ver tanta gente capaz de suportar a investida daquela multidão de resíduos, de forte poder infiltrante. Os que estavam em pior situação eram as obreiras,mas elas não davam mostras de se afligirem,espadelando por tempos sem fim.
A toada do canto acompanhava o ritmo do trabalho,também sem desfalecimentos. Nada entupia aquelas gargantas,parecendo que um filtro invisível as protegia. O mesmo não acontecera,pelo menos,à viaturas que por ali se arrumaram. Por muitos dias ainda se descobriram farrapos de linho nos seus interiores.

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