Ela assomou à janela e deu com os olhos nele. Para que estavas mirando aquela velha? Eu bem vi,não te faças estranho. Todas te servem,não resta dúvida,pois vais atrás de uma qualquer.
Ele ria-se. A cara mostrava um ar de sábado,e era mesmo sábado. O dia preferido para as caçadas. Não mudas,que eu já perdi a esperança. O que ela havia de fazer? Andava outra vez de barriga a avolumar. Não te chego? Precisas de outras? O que eu tenho aturado só eu sei. E tudo isto, em voz alta,com a rua cheia,que era dia de compras para a semana.
Aproximava-se a hora de encerrar a loja. Ele já estava bem escanhoado,quase pronto para largar. Só teria pena de o não fazer à sexta-feira,como acontecia com tantos. O diabo daquele ofício obrigava-o a mais uma manhã de grades. Sentir-se-ia roubado,mas tinha de ser.
Não se sabia porquê,mas o patrão confiava nele e tinha de estar até ao fecho das portas. Sacrificava-se,mas ganhava mais uns patacos,que bem lhe serviam para sustentar a família,talvez mal,e para os devaneios. E isto é que interessava.
A filharada era uma seca e a mulher,coitada,perdera a graça. Ela,quando o visse sair,faria ,com certeza, outra cena,provavelmente,mais rica de gestos e de palavras. Mas de nada lhe valeria,que o seu homem era assim. E muita sorte tinha ela de o ver de volta. Estava preso ao emprego. Onde iria arranjar outro como aquele? Quase patrão e ali mesmo ao pé de casa. A vizinhança teria entretém por muitos anos.
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