domingo, 30 de abril de 2017

ASAS RÓSEAS

Era aquele um poiso a exigir que se ficasse ali,mas a pressa não deixava. Fazia ainda frio,mas era por ser cedo e por se estar lá no cimo. A um lado do terreiro,erguia-se o castelo. Parecia ele uma emanação de todos aqueles pedregulhos que em volta se viam. As ruas eram de lajedo,talvez do tempo dos romanos. No topo de uma delas,aninhava-se uma capelinha,de ar também vetusto, e gelado. Fazia falta lá dentro uma lareira.
Um rebanho de ovelhas passava por ali. Tinham de ir para mais longe,que a erva,em redor, ainda escasseava. O pastor levava na sacola alguma coisa de comer. Se lhe apetecesse mais,castanhas não haviam de faltar. À entrada da aldeia,o chão estava coberto delas. Davam-nas três castanheiros que ali faziam sentinela. Perto,encontrava-se o guardião de todo aquele tesouro,um velhote muito desdentado,que envergava, à maneira de capa e capuz,uma saca de plástico de cor rosa.
Por muitos quilómetros,que a estrada percorria o alto de um gigante anfiteatro,aquelas asas róseas não deixaram de bater ,apelando e despedindo-se. Se se lá voltasse,em qualquer altura,era capaz de o velhote ainda lá se encontrar,que ele tinha todo o aspeto de ser uma das muitas pedras que por lá se perfilavam,pedras de muitos séculos.

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