sábado, 7 de julho de 2018
ALGURES NESTE VALE - O PIOR É O RESTO
Saíam de casa a pé,às vezes de longe e de madrugada,para irem trabalhar. Quão diferente hoje é. Vão-nas buscar a casa e trazem-nas de volta. É como ter um transporte porta a porta. Pois elas,depois de terem calcorreado uma boa distância,tinham começado a monda do trigo,que bem precisado estava. O tempo não era dos melhores,mas esperavam que se aguentasse sem chuva. Mas não aconteceu assim. Se fosse uma daquelas miudinhas,de molha-tolos,vá que não vá. Continuariam lá,a cumprir as horas do ajustado. Para isso, tinham trazido aquela espessura de xales. Mas deu para cair em abundância. Chovia que Deus a mandava. Chegar-lhes-ia até aos ossos,mesmo que trouxessem uma montanha deles. Tinham já larga experiência disso,escusavam de tentar mais uma vez. Não tiveram outro remédio se não recolherem-se numa cabana. Uns jovens ,que por ali andavam,umas vezes de jipe e outras a pé,não viram também outra saída,refugiando-se onde elas já se encontravam. Está-se bem aqui,disse um deles. Está,está,o pior é o resto. Explique-se lá minha senhora. É que,com o dia assim,logo a esta hora,temos de voltar para casa com os bolsos vazios. E a vocês, vai acontecer o mesmo? Quem tinha de responder não atinou logo na resposta. Foram uns segundos de hesitação,de angústia mesmo. Mas não devia dizer a verdade. Tinha de mentir. Quem ousaria o contrário?
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