quinta-feira, 13 de abril de 2017

UM LUGAR AO SOL

Eram aquelas umas bichas algo estranhas. Começavam a formar-se um pouco para lá da meia-noite,por vezes à chuva ou com um frio de rachar,mas também com as duas coisas juntas. Depois,com o correr das horas,chegavam a dar voltas aos quarteirões. E o mais curioso é que a cabeça delas apoiava-se na porta duma estação de correios.
Não se tratava,pois,de bichas para o pão,nem para o que quer que fosse de comer,como acontecera às portas de quartéis,ou para uns cobres,às portas de casas ricas,em épocas remotas.
Aquela gente estava ali,simplesmente,para conseguir lugar ao sol por preço de amigo,pois o dinheiro que eles tinham não dava para luxos.
A seleção era feita pela hora,minuto, talvez segundo,do envio de um telegrama. Assim,por um minuto,talvez segundo,lá se perdia o sonhado poiso,ou mesmo poiso algum,o que era muio pior.
Aquela gente,pois,via-se obrigada a largar o quente da cama muito antes do galo cantar e ir a voar para onde lhes podia sair a sorte grande. Os mais dorminhocos ou os menos lestos arricavam-se a só ter de chuchar no dedo.
Consta que havia almas,almas penadas,que nem se deitavam,a pensar que o despertador não iria cumprir a sua obrigação. A que extremos se tem de chegar quando se quer fazer figura de rico,não passando de uns pobres pelintras.

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