quinta-feira, 13 de junho de 2013
SERIA BONITO
Parecia um pobre de pedir. Não era,mas andaria lá por perto. A fonte que o
sustentara durante alguns anos secara de vez. Não se sabia do que vivia naquela
altura,mas viveria mal. A roupa que usava era disto eloquente prova. Deixara,
também, de pagar a renda da barraca. E uma manhã,fora apanhado a
solicitar,humildemente,a compreensão da dona do palácio,que estava muito
decidida a despejá-lo. Não teria coração esta mulher. Na sua frente,estava quase
um inválido. De facto,ele mal se podia deslocar,pois as suas duas pernas tinham
saído desiguais. Veja se consegue arranjar depressa o dinheiro,pois há gente na
lista de espera. Ao lado,repousava a sua carrinha,novinha em follha,pejada de
hortaliça e de fruta. Era a sua banca. Próximo,encontrava-se o mercado,mas ela
preferia actuar sem concorrência. Escolhera aquele canto,escondido da
autoridade,e ali multiplicava o capital das rendas. Os anos passaram,permitindo
que o mundo desse muitas voltas. E voltas deram também as vidas destes dois.
Viram-no ontem. Não parecia o mesmo. O fato que trazia era azul,sem uma mancha.
Ela lá tem continuado no seu canto. A carrinha é a mesma,mas com muitas marcas
de ferrugem. É isto fruto da demolição das barracas. Teria pensado em trocar a
madeira por cimento,mas não se sentiria capaz. Ainda se irá ver o carenciado de
muito tempo a salvar da falência a encrencada vendedeira de hoje? Seria bonito.
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