As cigarras emudeceram e os pássaros
esconderam-se nos ramos das azinheiras. É que se aproximava o medonho estrondo
de um comboio de viaturas. Nunca se vira por ali uma coisa assim. O que estaria
para acontecer? Bem depressa veio o esclarecimento quando os carros pararam.
Deles saiu um mar de gente que se apressou a bisbilhotar o vasto milharal que se
estendia ao longo do rio. Pobre rio,que naquela altura era uma pobre sombra do
que fora. Um fio de água,se podia dizer,que mal dava para a meia dúzia de
famílias de rãs que por ali faziam pela vida,quanto mais para matar a sede
daquela ilha verde. Pois fora esta pobreza que trouxera ali toda aquela gente.
Estavam muito preocupados,e com razão. É que aquele milharal estava a ser um
comedor de dinheiro. Não bastara a renda da terra,as sementes,as alfaias,os
químicos,os amanhos,as jornas,para há uns tempos ter havido necessidade de
recrutar pessoal para escavar o leito do rio,na esperança de algum milagre. E o
milagre dera-se,como se estava a ver. É que as maçarocas já despertavam os
apetites de bandos de pássaros. Alguma coisa de jeito eles sabiam que nelas
encontrariam. Aquele pessoal tinha sido o milagreiro. Escavando dia e noite o
velho leito do rio,desencantou veios de caudal capaz de dar vida àquele
milharal. Mereciam eles um prémio que se visse. Os pássaros também tinham
obrigação de contribuir.
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