quarta-feira, 29 de maio de 2013

FARIAM BICHA

Era uma senhora viúva,mas não uma triste viúva. Parecia uma montra de ourivesaria. Pode dizer-se que não se lhe viam os dedos,inchados,os pulsos,grossos,e o pescoço,largo,tal a carga de anéis,de pulseiras e de fios dos calibres mais diversos que a adornavam. Gostava também de falar,ou,melhor,não podia estar calada. Via-se,mais exactamente,ouvia-se. Onde quer que estivesse,armava logo palco. Ela,sozinha,dava conta de todo o espectáculo. Pela amostra,sobejava-lhe energia e conversa para se defender de qualquer um. Dizem que estou ainda nova e que me devia casar novamente. Mas eu estou bem assim. Nada me falta. O meu defunto marido deixou-me bem amparada,pois tinha uma boa reforma. Para quê casar,pois? Mas era só eu querer. Fariam bicha. Eu sei muito bem o que é que mais os atraía. Era o meu rico dinheirinho. Todos os meses,cento e sessenta contos. Nessa não caio eu. Os homens são todos os mesmos e eu já aturei um. Já chega. O tal que a deixara bem escorada. Santo homem. Soubera compensá-la devidamente por tanto o ter aturado. Onde é que ela iria arranjar um outro assim?

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