domingo, 12 de março de 2017

TER OU NÃO TER

O tema era da maior atualidade,não lhe restava a mais ligeira dúvida. Por ser assim,não resistiu a apresentá-lo. Tratava-se da reta pronúncia da palavra euro. Um tema,como bem se vê,muito sério e de transcendente importância. O orador estava bem documentado. É assim e não de outra maneira,como a de muitos bárbaros que por aí andam a estragar o ambiente. Uns verdadeiros assassinos da sagrada língua de Camões. Se ele fosse vivo,estaria aqui em meu lugar. Era dele esse direito e,sobretudo,o seu dever. Não se pode brincar com a língua. Mas não era preciso,pois tudo quanto ele dissesse,estou eu aqui dizendo. Nada iria acrescentar. A entrega,o entusiasmo,o calor posto na defesa da sua causa foram tais ,que o suor corria-lhe,abundante,pelas faces ,tintas de vemelho vivo. Houve até alguém que receou ir dar-se tragédia. É que lhe pareceu ver,em dado momento,o orador cambalear. Outro alguém asseverou ter dado conta de chispas de furor,quando ele fulminou os bárbaros ignorantes. Num canto,um assistente ia ouvindo e contagiando-se daquela braseira. E,a certa altura,não se conteve. A tampa saltara, com estrondo. Aquilo estava a ser demais. Um sujeito a preocupar-se com a reta pronúncia do euro,quando a tanta gente euros faltavam. Não era uma questão de ser ou não ser,mas de ter ou não ter. E o que importava,de longe,era ter euros,quaisquer que fossem as suas roupagens. Escusado será dizer que o orador nadava em euros.

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