terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

NINHARIAS

Teria uns quarenta anos. Vinha de óculos escuros e envergava camisa branca desportiva e calças negras,à moda. O cabelo era louro ainda e derramava-se,anelado,pelas costas largas. Àquela hora matinal,descia, assobiando,a longa e movimentada avenida. Na mão esquerda,trazia um saco de plástico vazio. Para que serviria? A resposta não demorou. No primeiro contentor de lixo,parou. Levantou a tampa e fez uma inspeção sem resultado. Mas um pouco mais abaixo,em frente do centro comercial,o passeio estava juncado de beatas. E ali,sim,o saco entrou em ação. Com o assobio mais afinado,retomou o percurso. Seguiram-se novos esquadrinhamentos e abaixamentos. Parecia não ligar aos transeuntes,que olhavam para ele algo admirados. Não podia preocupar-se com ninharias,pois acima de tudo estava o trabalho. O saco enchera-se,pelo que tinha direito a uma pausa. Foi o que fez,sentando-se junto a um quiosque,ponto de grandes encontros. Tirou os óculos,suspendendo-os,como é da praxe,na camisa,e confraternizou.

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