segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

BACALHAU DO VALE

Eram aqueles uns lugares e uns tempos de muito atraso. Não admira, pois, que alguém de longe tivesse de ser esclarecido. E foi o que aconteceu uma ou outra vez.
Oiça lá, o que é que está para aí a comer? Tratava-se de um conduto que lembrava o chouriço, quanto à forma, mas de cor branca. Nunca viu? Sabe, é que o merceeiro é muito desconfiado, e lá pensou que eu lhe podia pregar o calote. Os tempos vão maus. Isto, a bem dizer, não passa de toucinho, e de fraca qualidade. Defende-se, e eu sempre vou comendo alguma coisa.
Então, o que foi hoje a dieta? Olhe, hoje calhou ser sopas de pão com bacalhau do vale. O senhor Joaquim está a mangar comigo? Eu? Nunca me atreveria. Pois foi isso mesmo que ouviu, nem mais, nem menos. O pão, sabe muito bem o que é, visto também o comer. Só não conhece é este bacalhau, pois não é destas bandas. Sabe, o verdadeiro está muito caro para a nossa bolsa. Assim, inventámos este, que é uma ervinha que há aqui nas redondezas em abundância. E lá nos vamos iludindo.
Onde é que se pode matar a sede, que está um calor dos diabos? Está ali a ver aquele poço? Lá dentro há muita água. E ela é boa para uma pessoa a beber e não ficar doente? Já se vai ver. Pode bebê-la quanta quiser, que é o que eu vou fazer. É que lá dentro há rãs. Como elas estão ali bem vivas, não as ouve a falar?, a nós não nos há-de fazer mal.

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