terça-feira, 9 de agosto de 2016
MÁGOAS
Na mesa,não cabia mais uma garrafa de cerveja. De vez em quando,levantava-se para esvaziar. A deslocação fazia-se com dificuldade,pois uma perna arrastava e a outra era um bocado trôpega. Valia-lhe apoiar-se numa bengala. Mostrava algum desassossego,olhando em redor,de cabeça baixa,como a pedir socorro. O empregado que o atendia observava-o desconfiado,parecendo prever algum dissabor. Chamou-o mais uma vez. Queria pagar,mas não trago dinheiro e esqueci-me também do livro de cheques. O gerente deve compreender.Veio o gerente. A conversa não foi agradável,como era de esperar. Não sabia como aquilo lhe tinha acontecido. A sua vida não lhe tinha corrido bem ultimamente. Ao gerente que lhe importava isso? Embora alterado,parecia ter alguma pena do homem,quase um inválido. Era num sábado de manhã. Na terça-feira venho pagar a despesa. Esteja certo disso. Se quiser tem aqui o meu bilhete de identidade. Ergueu-se a custo e caminhou para a porta muito lentamente,arrastando ainda mais a perna. Talvez quisesse correr,mas estava-lhe interdito. Foi triste vê-lo,já quase a despedir-se,em tal transe. Que mágoas teria ele querido afogar? Deve ter vindo para longe,onde ninguém o conhecesse. Como um animal acabado,fugindo do rebanho.
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