quinta-feira, 28 de abril de 2016

CHEGAR AO FIM

O botão desabrochara,cheio de ilusões,e dele surgiu uma flor linda,viçosa. E veio logo um gavião cobiçoso e dela se enamorou. E ali,num instante,tudo se consumou.E da flor,que ainda agora começara a sê-lo,semente brotou. E meses volvidos,uma criança nasceu.Que lindo menino aquela flor,ainda viçosa,ao colo trazia. Que bem os dois ficavam.Mas bem depressa,a flor que viera viçosa,linda,murchou,pois quase tudo lhe faltou.Pobre flor que tão rápido murchaste. Que pressa foi essa de chegar ao fim?

PRAIA FLUVIAL - PENACOVA

Penacova

PARQUE NACIONAL DA PENEDA-GERÊS

Parque Nacional da Peneda-Gerês

ALENTEJO EM FLOR

Alentejo

quarta-feira, 27 de abril de 2016

FINA CEIA

À vista de todos,banqueteou-se. Era hora da ceia e ele devia estar com pressa. Nem se lembrou de oferecer,mas estava desculpado. Ele mesmo se encarregou de todas as operações. Já vinha preparado. De um saco,já muito gasto,retirou tudo quanto era indispensável,menos o vinho,mas esse,a seu tempo,apareceria,pois ali havia muito.E o que era tudo? Uma cebola grande,daquelas próprias para um regimento,azeite,vinagre,sal e pão. Com um canivete,cortou a cebola em rodelas muito finas,que foram caindo num prato de esmalte,já também muito usado. Regou-as prodigamente com azeite e vinagre,que,mesmo assim,foram incapazes de dissolver as carradas de sal,ao seu gosto. O molho devia estar uma delícia,pois grande parte dele marchou logo,ensopando pedaços de pão. Finalmente,a montanha de rodelas lá seguiu o seu destino,mas com vagares. Foi um prazer vê-lo comer. Prazer maior deve ele ter tido. E assim,ficou sobejamente demonstrado como tão simples é,e quase de graça,o ter uma fina ceia.

What The Potuguese Left Behined : The Cultural Influence Of The First Colonials

Portuguese

Letter from Pêro Vaz de Caminha

Memory  of the World

terça-feira, 26 de abril de 2016

FIO DE ÁGUA

As cigarras emudeceram e os pássaros esconderam-se nos ramos das azinheiras. É que se aproximava o medonho estrondo de um comboio de viaturas. Nunca se vira por ali uma coisa assim. O que estaria para acontecer? Bem depressa veio o esclarecimento quando os carros pararam. Deles saiu um mar de gente que se apressou a bisbilhotar o vasto milharal que se estendia ao longo do rio. Pobre rio,que naquela altura era uma pobre sombra do que fora. Um fio de água,se podia dizer,que mal dava para a meia dúzia de famílias de rãs que por ali faziam pela vida,quanto mais para matar a sede daquela ilha verde. Pois fora esta pobreza que trouxera ali toda aquela gente. Estavam muito preocupados,e com razão. É que aquele milharal estava a ser um comedor de dinheiro. Não bastara a renda da terra,as sementes,as alfaias,os químicos,os amanhos,as jornas,para há uns tempos ter havido necessidade de recrutar pessoal para escavar o leito do rio,na esperança de algum milagre. E o milagre dera-se,como se estava a ver. É que as maçarocas já despertavam os apetites de bandos de pássaros. Alguma coisa de jeito eles sabiam que nelas encontrariam. Aquele pessoal tinha sido o milagreiro. Escavando dia e noite o velho leito do rio,desencantou veios de caudal capaz de dar vida àquele milharal. Mereciam eles um prémio que se visse. Os pássaros também tinham obrigação de contribuir.

Moraes - "The Man" of Tokushima

Wenceslau de Moraes

How Portugal started globalization

Portugal

segunda-feira, 25 de abril de 2016

NINHARIAS

Teria uns quarenta anos. Vinha de óculos escuros e envergava camisa branca desportiva e calças negras,à moda. O cabelo era louro ainda e derramava-se,anelado,pelas costas largas. Àquela hora matinal,descia, assobiando,a longa e movimentada avenida. Na mão esquerda,trazia um saco de plástico vazio. Para que serviria? A resposta não demorou. No primeiro contentor de lixo,parou. Levantou a tampa e fez uma inspeção sem resultado. Mas um pouco mais abaixo,em frente do centro comercial,o passeio estava juncado de beatas. E ali,sim,o saco entrou em ação. Com o assobio mais afinado,retomou o percurso. Seguiram-se novos esquadrinhamentos e abaixamentos. Parecia não ligar aos transeuntes,que olhavam para ele algo admirados. Não podia preocupar-se com ninharias,pois acima de tudo estava o trabalho. O saco enchera-se,pelo que tinha direito a uma pausa. Foi o que fez,sentando-se junto a um quiosque,ponto de grandes encontros. Tirou os óculos,suspendendo-os,como é da praxe,na camisa,e confraternizou.

GASPAR CORTE REAL - PORTUGUESE EXPLORER

Gaspar Corte Real

The Portuguese Role in Exploring and Mapping the New World

New World

domingo, 24 de abril de 2016

UM GELADO

Já devia ter ultrapassado o cabo dos noventa,ou talvez não,que isto de idades tem muito que se lhe diga. Caminhava quase em ângulo reto,apoiado numa bengala e numa canadiana. Conseguira descer uma escadaria de dois lanços,atravessara a rua e embrenhara-se no jardim. Avançava muito tentamente e,enquanto o fazia,soltava gemidos. Eram ais,numa toada que lembrava,das fitas,a dos remadores das galés. Ele também seria uma,já muito gasta,a desconjuntar-se,mas que ainda se mantinha navegando. Só que nela havia apenas um único tripulante. A cabeça seria a proa. O fluido envolvente deixar-se-ia abrir,sem resistência,com pena dele. E a embarcação lá ia,muito arrastadamente,mas ia. Parou junto a um quiosque. Encostou os apoios e ergueu com esforço a cabeça. Pediu um gelado,pagou,recebeu o troco e retomou a navegação,mas por apenas mais uns metros. Sentou-se num banco,pousando a iguaria ao lado. Tossiu,assoou-se,instalou um cigarro na boca e acendeu-o. Tudo isto sem pressas,como que antegozando o festim. Finalmente,chegou o grande momento. Chupava,dava uma fumaça,tossia e olhava. Para onde? Ficaria isso com ele.

The Portuguese naturalist Correia da Serra(1751-1823) and his impact on early nineteenth-century botany

Correia da Serra

Portuguese language heritage in Asia

Portuguese heritage

sábado, 23 de abril de 2016

FEITICEIRA

Daquele segundo andar,o senhor sentir-se-ia dono do mundo. A casa dominava a ampla várzea. O rio não se via,que a vegetação densa da margem não deixava,mas os campos a perder de vista acompanhavam-no.
Naquela época,era o trigo o rei. E umas vezes,veria verde,das searas a crescer,e outras,amarelo,das searas a amadurar ou dos restolhos. Podia dizer-se que era o pão que ele via,o pão a haver, o pão já pronto,como o da padaria que ficava mesmo no rez-do-chão.
Vinha ali de vez em quando. A padeira enfeitiçara-o. Demorava-se uns dias. Muitos ficariam como ele,rendidos. Além de tudo o mais,havia aquela paisagem restauradora. E aquele silêncio,apenas cortado,lá de onde em onde,pelo apitar do comboio,que corria lá em baixo. E,depois,quedar-se-ia a vê-lo,qual serpente deslisante,para acabar por se sumir,lá muito longe,na linha do horizonte.
Mas,acima de tudo,seria aquele aroma de pão,quente,telúrico,acabado de sair do forno a lenha,que mais o inebriaria. Era um cheiro aconchegante,um cheiro de fartura,um cheiro caseiro. Enchia-se dele para uma larga temporada. Quando já não o sentia como ele desjava,punha os pés ao caminho e lá se instalava. Mas não se expunha. Passaria as horas à janela daquele segundo andar,admirando a paisagem e respirando o perfume do pão.

WERE PORTUGUESE EXPLORERS THE FIRST EUROPEANS TO FIND AUSTRALIA?

Portuguese expolorers

Há meia dúzia de anos, num final de Abril como este, participei numa visita cultural a Havana, organizada pela então embaixatriz e conselheira cultural da embaixada de Cuba em Lisboa. Quando fomos tomar uma bebida no café La Columnata Egipciana, na calle Mercaderes, em pleno centro histórico da cidade, café onde Eça costumava abancar  e que é ali recordado com um grande retrato seu em uma das paredes do estabelecimento, ...

Do blogue do Centro Nacional de Cultura