sábado, 24 de fevereiro de 2018

POBRE JIBÓIA

O jipe não havia meio de vir,pelo que o melhor era fazerem-se ao caminho,um caminho à beira-rio. Manda quem pode,mas às vezes não devia mandar,como foi neste caso. Ignorâncias. Entretanto,caíra a noite. Dava aviso,mas esperava pouco. Já se sabia,mas era o mesmo que nada. À frente,ia o trepeiro,homem muito experimentado. Com ele no comando,ia-se tranquilo. Não se contara,porém,com uma jibóia,que se lembrara,naquela altura,de ir à sua vida. E deu-se o que é frequente acontecer,um encontro que ninguém desejava. A pobre da jibóia deve ter ficado muito assustada e tratou de se escapulir,refugiando-se no remanso de onde viera,o capim fresquinho do talude do rio. O guia ainda levantou a catana no propósito de a enfrentar. Fora ele o único a montar defesa,pois com os outros não se podia contar. Ora a nossa vida,lamentava-se o que podia. Assim não vamos lá. Com quantas gibóias iremos cruzar? Está além uma fogueira e o mais acertado é ficarmos lá à espera,aconselhou o guia. O jipe acabou por aparecer,depois de se ter refeito de uma mazela.

REGRESSO

Chovera torrencialmente nos últimos dias. Os terrenos estavam numa papa e os caminhos alagados. A ocasião não era propícia,pois,para o regresso,mas havia um prazo a cumprir,que não devia ser ultrapassado,sob pena de se encontrar a porta fechada. Valeu a perícia do condutor e a colaboração de três ajudantes,ou melhor,de três boas vontades. O primeiro obstáculo surgiu logo à partida. O rio corria lá em baixo,apressado e turbulento,e o talude da margem parecia manteiga. A jangada já estava esperando. Duas tábuas oscilantes faziam negaças ao jipe. Mas este,só com o deslisar,que o mais estava interdito,deu com elas. Uma estrada de terra batida aguardava. Como se encontraria ela? Passara-se por lá há uns meses,quando da vinda,e aquilo era uma fábrica de poeira vermelha e um crivo de malha larga. Não se precisou de esperar muito para se saber a resposta. O que fazia ali jeito era um barco. Mas o jipe lá avançou,corajoso,a passo de boi,que mais não podia ser. A água,lamacenta,infiltrava-se por todos os buracos e a sua altura era,por vezes,de respeito. Houve,assim,necessidade de se fazerem desvios pelos morros,em risco de o jipe ir parar lá abaixo. Mas o declive,volta não volta,não permitia. Teve então de se recorrer ao expediente das pontes improvisadas com capim. Mas este era rei e não faltaram sapadores. A meta foi,finalmente,cortada. Assim terminava a primeira etapa de uma corrida. Outras se seguiriam,felizmente não tão trabalhosas e angustiantes.

MISÉRIA

Um homem novo,mas de cabelo já grisalho,talvez das muitas ralações,levantara a tampa de um contentor de lixo e estivera uns tempos a pesquisá-lo,a inventariá-lo. Acabara por se decidir por dois sacos,que abriu,a confirmar o valor do achado. Valia a pena levar. A testemunha involuntária dessa triste cena encontrava-se também ocupado com outro depósito,a caixa do correio,por detrás da porta de vidro da sua morada. Terminadas as pesquisas,os seus olhares cruzaram-se. E o que um viu foi ainda mais triste. A tristeza e a vergonha que se soltaram lá daqueles olhos,do homem novo, de cabelo grisalho. Parecia ter praticado uma feia acção. Aquele homem estava a precisar de ajuda urgente. Mas que ajuda lhe poderia dar? Uma esmola? Uma pobre mezinha,que apenas ligeiramente o aliviaria. Ficaria,até,mais magoado. A vergonha que os seus olhos espelhavam era bem sinal de que estava consciente da sua situação triste,o que muito lhe havia de doer. Não teria gostado de ter sido visto naquela procura. Seria melhor deixá-lo ir,desejando que,um dia,um dia próximo,desse com a cura,definitiva, da sua miséria. :

UM GELADO

Já devia ter ultrapassado o cabo dos noventa,ou talvez não,que isto de idades tem muito que se lhe diga. Caminhava quase em ângulo reto,apoiado numa bengala e numa canadiana. Conseguira descer uma escadaria de dois lanços,atravessara a rua e embrenhara-se no jardim. Avançava muito tentamente e,enquanto o fazia,soltava gemidos. Eram ais,numa toada que lembrava,das fitas,a dos remadores das galés. Ele também seria uma,já muito gasta,a desconjuntar-se,mas que ainda se mantinha navegando. Só que nela havia apenas um único tripulante. A cabeça seria a proa. O fluido envolvente deixar-se-ia abrir,sem resistência,com pena dele. E a embarcação lá ia,muito arrastadamente,mas ia. Parou junto a um quiosque. Encostou os apoios e ergueu com esforço a cabeça. Pediu um gelado,pagou,recebeu o troco e retomou a navegação,mas por apenas mais uns metros. Sentou-se num banco,pousando a iguaria ao lado. Tossiu,assoou-se,instalou um cigarro na boca e acendeu-o. Tudo isto sem pressas,como que antegozando o festim. Finalmente,chegou o grande momento. Chupava,dava uma fumaça,tossia e olhava. Para onde? Ficaria isso com ele.

CROP PHYSIOLOGY ABSTRACTS . Volume 4 . Página 520

https://books.google.pt/books?id=0ewyr-Y-gWEC - Traduzir esta página 1978 - ‎Vista de excertos - ‎Mais edições 4395 GAMA, M. V. DA [A case of probable sulphur deficiency in wheat in pot experiments.] Um caso provável de deficiència de enxofre em trigo cultivado em vasos. Agronomia Lusitana (1977) 38 (2) 123-126 [Pt, en, 11 ref.] Estação Agronómica Nacional, Oeiras, Portugal. Various rates of N, K and S were added to wheat in pot experiments. With the no-S treatment, the highest rate of N produced severe chlorosis, stunted and retarded growth, and low grain yield. The total S content ...

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

MANUEL VASCO DA GAMA - COIMBRA

Título: Sobre o potássio e o magnésio dalguns solos do perímetro de rega da Souraia Autor(es): Manuel Vasco da Gama Publicação: Coimbra : Ordem dos Engenheiros, 1980 Descrição física: 19 p. Assuntos: Recursos hídricos CDU: 556

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

AR DA FARTURA

Vinha de lá consulado por uns tempos. Possuíra aquilo por um dia ou dois,as searas a perder de vista,as muitas cabeças de gado,os olivais bem tratados. Interessara-se menos pelo pomar,onde as laranjas permaneciam nas árvores tempo demasiado,a ponto de ficarem sem sumo.Jantava-se ao som de orquestra afinada, de cigarras e de grilos, e respirava-se,sobretudo,de noite,o ar da fartura. O cozinheiro,que servia também à mesa,de luzidia calva ,parecia um ganhão acabado de vir do trabalho,todo encardido de suor e de poeira. O avental dava mostras de não ter substituto. Nele apoiava um grande pão,que cortava em fatias grossas,com uma faca de matar porcos. Dava-lhe o sono depois daquela estafadeira e a loiça ficava por lavar.De madrugada,acordava ao som de ruidosa azáfama na cozinha. Além de água sempre a correr,os pratos e os talheres davam em imitar o cozinheiro ,que gostava de conversar com ele mesmo. O casarão parecia uma caixa de ressonância. As cigarras e os grilos mais próximos ,de tão assustados,emudeciam.Levantava-se cedo,para alongar o período de carregamento da bateria. Não se podia desperdiçar,de facto, aquelas raras ocasiões,que valiam ouro. Faria como alguns,ainda que em muito diferente escala,que iam temporadas para longe,de modo a equilibrarem as finanças.

CABEÇA PENDENTE

Para ali está a pobre velha no seu palácio,um rés-de-chão de casa velha,em rua estreita,do lá passa um. É só uma porta e uma janela. Para ela deve chegar e sobejar. É por detrás da janela que ela se põe para ver a paisagem. Estará farta dela,que bem pobrezinha ela é,pois,lá de longe em longe,dá-lhe para pôr a cabeça de fora,procurando esticá-la,para mais abarcar. Privilegia o lado nobre,o que deita para uma quase avenida. O outro leva a uma muralha. O que ela daria para lá morar,mesmo que ao nível seu conhecido,ou até numa cave. Lá se irá conformando,que melhor remédio não lhe é consentido ter. Mas há dias,estaria desesperada. Tapara a cara com ambas as mãos,de cabeça pendente. Estaria chorando,que a sua estreita rua será um vale de lágrimas. Pelo menos,em ocasiões de fortes chuvadas,escoar-se-ão por ela,vindos da tal quase avenida,caudais de respeito. Para ali está,pois,a pobre velha,há espera não se sabe de quê. Talvez do paraíso,que ela bem o merece.

SAQUITO RECHEADO

Um pardal desloca-se dando uns saltinhos muito rápidos,parecendo dispor de potentes molas nos seus pezitos. E nos seus voos,ao mínimo sobressalto,não se vê usar as asas. Fa-lo-á ainda como de saltitos,agora maiores,se tratasse. Pois aquela velhota muito se lhe assemelha no seu modo de girar. É claro que não o faz pulando. Dá uns passinhos muito rápidos,muito rasteirinhos. Julgar-se-ia impossível que um corpo tão mirradinho conseguisse assim progredir. Mas avança,que é bem visível. Ainda há pouco estava lá longe e já agora se encontra muito próximo,como se tivesse corrido ou voado. Parece ser uma pobre de pedir,ainda que nunca fosse vista de mão estendida. Mas que ela vai sempre de saquito recheado,não restam dúvidas. Se é de ofertas de comida,têm-lhe dado elas energias bastantes para o seu peregrinar de anos,mantendo inalterável a maneira de caminhar. Voará,quando não estão a vê-la? Talvez um dia o faça,quem sabe? Pelo menos,alguns pardais já a consideram da família. Foi o que há dias deram a entender. Estavam dois ou três saltitando no murete de um laguinho,há procura de alguma coisa de comer,quando surge a velhota,no seu regresso a casa. Nem se mexeram,ao contrário do que acontece à aproximação de um qualquer,criança mesmo. Continuaram,calmamente,na sua tarefa,talvez desejando-lhe um bom dia e uma boa refeição.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

MANUEL VASCO DA GAMA ~ AGRICOLA USDA

# Date Title Long Author [ 1 ] 1979 Comparacao de varios indices de potassio do solo com o potassio extraido pelo azevem-perene em vasos. Gama, M.V. da. [ 2 ] 1977 Efeitos do azoto e do potassio na composicao mineral do trigo 'Impeto' e do tomate 'Roma' Gama, M.V. da. [ 3 ] 1977 Um caso provavel de deficiencia de enxofre em trigo cultivado em vasos. Gama, M.V. da. [ 4 ] 1976 Changes in the exchangeable potassium contents of some soils in different experimental conditions. Gama, M.V. da. [ 5 ] 1976 Perdas por volatilizacao de azoto da ureia nos solos. Gama, M.V. da. [ 6 ] 1974 Extraction of potassium from twenty one soils with a cation-exchange resin. Gama, M.V. [ 7 ] 1973 Efeito do potassio e do sodio na producao e na composicao do azevem (Lolium perenne L.) Gama, M.V. da. 1973 Gama, M.V. da. [ 8 ] 1970 Sobre a fixacao do potassio e do amonio nos solos. Gama, M.V. da.